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sexta-feira, 29 março, 2024

José Eugênio Vieira

José Eugênio Vieira

Ao longo de décadas na administração pública, ele é dono de um invejável currículo à frente das mais importantes secretarias e órgãos governamentais no Estado e munícipios. Agora, José Eugênio Vieira, economista especializado em Planejamento Agrícola, assume a Superintendência do Sebrae-ES, onde tem a missão de intensificar ainda mais o trabalho a entidade junto às micro e pequenas empresas, principalmente no interior do Estado.

Convicto do que pode fazer e contando com a expertise de seu corpo técnico, José Eugênio aponta como as principais prioridades de sua gestão a formalização de mais empreendedores individuais e o cumprimento das metas do Sebrae Nacional bem acima do que é estipulado. E ele tem tudo para conseguir isso, afinal, o Espírito Santo é o Estado onde há o menor índice de mortalidade de micro e pequenas empresas. Em 2010, o índice foi de 14%.

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O senhor já atuou em diversas esferas da gestão pública em nosso Estado, o que o capacita para conhecer bem o Espírito Santo. Como avalia a economia do Estado e, principalmente, a participação das micro e pequenas empresas nela?
A nossa economia é voltada basicamente para produtos de exportação. Grande parte do nosso PIB é em função dos nossos aglomerados de indústrias que se formam para o mercado externo. Mas uma característica do Espírito Santo é que essas empresas, mesmo com a própria pujança e volume que movimentam, só representam 3% do total de empresas. O restante (97%) é de micro e pequenas empresas, que têm grande força no Espírito Santo. Temos também uma força muito grande do setor agrícola, que é uma das atividades que o Sebrae vai trabalhar bem nesta gestão. O Espírito Santo foi muito dependente do setor agrícola, mas, depois, houve uma reviravolta e o setor de serviços cresceu bastante, sendo que a agricultura perdeu espaço e poder na economia.

Quais são as principais razões para a mortalidade de MPEs no Brasil?
A principal razão é a falta de planejamento. Quando o empresário vai montar uma atividade, o primeiro passo deveria ser fazer o plano de negócio, que é o estudo de mercado, a verificação de viabilidade, o tipo de investimento que pode ser feito, ou seja, um estudo geral da atividade. Mas o erro crasso que o empresário comete é começar o negócio sem planejamento financeiro, usando o dinheiro que tem e, depois, precisando pegar capital de giro. Para se ter uma ideia, do total de volume de crédito que é concedido no Estado, 82% é para capital de giro e só 18% é para investimento. Ou seja, a maior parte dos empreendimentos é aberta com recursos próprios. E se for para tomar crédito, que seja para investimento, que tem prazo maior, juros menores e pode ser planejado de forma antecipada. Quando as pessoas vêm procurar o Sebrae, as empresas já estão numa situação difícil. Dependendo do tempo em que a empresa foi criada, há possibilidade de reverter o quadro, mas se o problema já se arrasta por um longo período e não há planejamento, é grande a chance de mortalidade.

Em 2010, o Espírito Santo foi o Estado com o menor índice de mortalidade de micro e pequenas empresas (14%). A que isso se deve?
Na crise econômica mundial, em 2009, por exemplo, nós abrimos mais empresas do que fechamos. Esta é uma característica própria do Espírito Santo. A pesquisa que apontou esse índice capixaba foi feita para identificar os índices de mortalidade, mas suas causas não foram estudadas. Entretanto, a atuação do Sebrae pode ter contribuído, com a criação das Centrais Fácil, por exemplo, que facilitaram a abertura de empresas.

No que as micro e pequenas empresas precisam melhorar? Qual o grande desafio que elas precisam enfrentar?
Elas têm que procurar se aperfeiçoar e melhorar o seu negócio. O grande desafio é fazer planejamento; gestão, com destaque para a financeira; uso correto do crédito, e inovação.

A Lei Geral, de 2006, foi um importante passo para dar uma “guinada” às atividades desenvolvidas pelas micro e pequenas empresas? Por quê?
Esta lei trouxe inovações interessantes, como a figura do Empreendedor Individual (EI). Num primeiro momento, o grande desafio que esta lei trouxe foi o de convencer os municípios a também criarem suas leis específicas. A Lei Geral traz uma série de outros desdobramentos, como a questão das compras governamentais, que geram uma receita dentro do próprio município. Mas o grande resultado dessa lei foi a criação do EI. Dentro do cenário do Estado, calcula-se que tenhamos na informalidade algo em torno de 200 mil pessoas. Tínhamos uma meta de atender 16 mil empreendedores individuais em 2010 e chegamos à formalização de 21.006. Neste ano, temos a meta de atender 8 mil e já cumprimos, até o inicio de março, mais de 55% dessa meta. A Lei Geral é, acima de tudo, uma grande lei social.

Como estão as micro e pequenas empresas com relação à exportação?
As micro e pequenas empresas têm uma participação pequena, porém crescente. Neste ano, fizemos uma reformulação em nossa estrutura organizacional e criamos uma gerência só para exportação. Ate então, só tínhamos experiências isoladas, como missões a outros países. Entretanto, a exportação só é algo estratégico para a empresa estruturada, que está no estágio de buscar mercado, depois de já estar capacitada e com sua estrutura montada. Os melhores exemplos de hoje vêm dos segmentos moveleiro, de vestuário e do mármore e granito.

O Estado tem recebido, e ainda vai receber, importantes projetos econômicos que vão alavancar ainda mais o desenvolvimento. Que participação as micro e pequenas empresas têm e terão nesse cenário?
Elas poderão ter uma participação importante se estiverem habilitadas e preparadas para isso, porque quem demanda o serviço quer qualidade. O papel que o Sebrae pode fazer é o de preparar essas empresas para fazer esse serviço com melhor qualidade. Este não é um processo fácil, porque há empresas que não querem entrar nesse mercado, e o Sebrae tem que convencer as empresas de que elas podem e devem melhorar sua participação no mercado.

O Sebrae incentiva muito o empreendedorismo. O capixaba é um povo empreendedor? Se sim, onde estão as melhores iniciativas?
O capixaba é empreendedor sim. O Sebrae começou há uns anos a experiência de trabalhar o empreendedorismo nas escolas, no ensino fundamental e médio. Esse trabalho envolve o aluno e a família e, com isso, cria-se certo incentivo tanto para os alunos, quanto para os pais. Em Pinheiros houve um caso interessante. O estudante fez na escola um projeto de uma padaria, o pai assimilou aquilo e o projeto virou uma padaria de verdade. Na Região de Montanhas, por exemplo, o Sebrae atua muito na área de agronegócio, que já se consolidou, tornando o empreendedorismo ali fato concreto. Contudo, apesar de iniciativas como estas, não temos uma cultura empreendedora e ainda temos muito o que aprender. Mas o capixaba não é preguiçoso e gosta de aprender, o que já ajuda bastante.

As empresas precisam inovar mais? A capacidade inventiva precisa ser estimulada?
Sempre. O mundo gira muito rápido. O grau de exigência de qualificação está se ampliando e quem não se qualificar vai entrar na estatística de mortalidade.

Que potencialidades o Estado tem e que ainda não estão sendo aproveitadas?
Pode-se atuar principalmente no serviço público e nos empreendimentos que estão chegando ao Estado. A demanda de novos investimentos que vem com estes projetos é muito grande. Há o investimento para a obra, mas e também outros investimentos de suporte para aquele empreendimento. Por isso, neste momento, as oportunidades estão nas regiões que vão receber esses grandes empreendimentos. Em Linhares, por exemplo, quando a Sucos Mais se instalou na cidade criaram-se polos de fornecimento de matéria-prima para a indústria. Toda a fruta que se produz vai para consumo da indústria. Ou seja, quando há um investimento desse porte em alguma região e o sujeito sabe que tem mercado para o produto dele, temos aí uma grande oportunidade.

Estamos bem servidos com relação a financiamento? As instituições bancárias oferecem crédito fácil para quem está começando um negócio?
Estamos muito bem servidos. Temos as melhores instituições financeiras do País, os maiores repassadores do Governo Federal e excelentes linhas de crédito, sobretudo para investimento fixo. Agora, o pequeno empresário precisa fazer o dever de casa dele. Primeiro, buscar conhecimento sobre as linhas de crédito. Muitas vezes, há deficiência na parte de planejamento e não se sabe identificar quais são as possibilidades de crédito no mercado. Culturalmente, há medo de tomar crédito. Para vencer isso, construímos um site (www.boletimdecredito.com.br) em parceria com os seis parceiros da instituição (Banco do Brasil, Banestes, Bandes, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste e Sicoob). Neste site, que é uma iniciativa pioneira no Brasil, inclusive, disponibilizamos informações sobre as principais linhas de crédito operadas por esses bancos e voltadas para as MPEs, a política de taxas de juros, os prazos, as garantias exigidas, dicas para acessar o crédito com qualidade, a importância do planejamento, da gestão financeira eficaz, dos controles básicos, de se manter os indicadores financeiros em dia, de precificar o produto corretamente e as principais estatísticas de concessão de crédito no Estado.

Muito se fala no desenvolvimento bem distribuído geograficamente por todo o Estado. Como o Sebrae tem trabalhado para interiorizar o crescimento econômico?
O que move um empresário a instalar determinado negócio é o mercado e a localização. Várias experiências já foram feitas no Espírito Santo, principalmente no norte, onde foram fornecidos incentivos e, com isso, importantes investimentos foram atraídos para a região. Entretanto, fica-se longe do mercado consumidor e também do fornecedor e das principais vias de escoação da produção. O que o governo está fazendo para distribuir melhor o desenvolvimento é a criação de polos regionalizados de vários municípios. O Sebrae entraria nesse projeto para dar suporte e estrutura de organização de que o empresário precisa.

O senhor assumiu a superintendência do Sebrae no começo deste ano. Quais são seus planos para a instituição?
Queremos buscar o nosso cliente de baixa renda, ou seja, aquele indivíduo que não tem condições de vir ao Sebrae. O Sebrae é que tem que ir até ele, principalmente o homem do campo, com quem queremos ter uma forte atuação. Além disso, o Sebrae também precisa de uma sede nova. Queremos melhorar a qualidade do atendimento, aumentando o número de clientes. Temos também metas estabelecidas pelo Sebrae Nacional, e estamos buscando o cumprimento delas sempre acima, como foi no ano passado.

Mas o grande desafio de 2011 é ampliar o número de empresas atendidas pelo Sistema. Essa meta era de 13 mil e chegamos a 27 mil, em 2010. Neste ano, a meta é de 22 mil. Queremos ultrapassar esses 22 mil. Além disso, o Sebrae está ousando e buscando novos nichos de mercado para trabalhar. Por exemplo, no ano passado, trabalhamos com os sindicatos dos panificadores. Agora, vamos buscar outro nicho. O Detran, por exemplo, deve ter umas 5 mil empresas em volta dele e que precisam desse tratamento – a que fornece placas, as autoescolas, as clínicas. Estamos pensando em entrar também na área de farmácia. Enfim, há um mercado muito grande. Vamos sair da mesmice e trabalhar outros perfis de cliente.

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