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sexta-feira, 19 abril, 2024

Jogo aberto no xadrez eleitoral

Num arranjo diferente do tabuleiro de 2014, cheio de movimentações partidárias e indefinições, quem vencerá a disputa pela Presidência da República e dará o xeque-mate referendado pelos votos?

As peças que vão compor a disputa presidencial começam a se alinhar nas casas do xadrez eleitoral de 2018. Conhecidas “pedras cantadas” desse tabuleiro articulam os movimentos, à esquerda ou à direita, em suas bases para avançar em busca do xeque-mate no pleito de outubro, como Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT). Já no ninho tucano, sai João Doria e entra Geraldo Alckmin como o nome a ir para a briga pelo PSDB. No Planalto, o presidente Michel Temer (PMDB) já deu uma série de sinais de que também estará no páreo, apesar de sua popularidade não superar os 6%. E no PT, aquele que seria tempos atrás a mais certeira das apostas hoje é o que tem a sua participação sob maior ameaça. Luiz Inácio Lula da Silva é réu em processo por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O petista já foi condenado pela Justiça, em primeira e segunda instâncias. Em 27 de março último, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) publicou a decisão (acórdão) do julgamento dos embargos de declaração e deu prazo de 12 dias para a defesa recorrer em tentativa de aliviar a situação do ex-presidente, que com mais uma derrota judicial se tornou ficha-suja, portanto, inelegível. O Supremo Tribunal Federal (STF) também é agente decisivo nesse imbróglio e avaliará, em 4 de abril, o mérito do pedido de habeas corpus.

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Enquanto se aguarda o real peso do efeito Lava Jato nesse arranjo, a avaliação é que o jogo está em aberto. “Desses cinco nomes [excetuando Temer], só Bolsonaro nunca disputou a Presidência. Portanto, são conhecidas suas trajetórias, propostas e ideias. Mas cada um deles vive uma situação muito particular do ponto de vista político-partidário. Lula às voltas com a Justiça. Marina num partido fraco. Alckmin sem conseguir crescer e empolgar. Ciro em busca de apoios na esquerda. Bolsonaro com alta rejeição”, observa o professor Vitor de Angelo, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Vila Velha (UVV).

Jogo aberto no xadrez eleitoral
Fonte: TSE

“São trajetórias, propostas e ideias conhecidas. Mas cada um deles vive uma situação muito particular do ponto de vista político-partidário. Lula às voltas com a Justiça. Marina num partido fraco. Alckmin sem conseguir crescer e empolgar. Ciro em busca de apoios na esquerda. Bolsonaro com alta rejeição” Vitor de Angelo, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UVV

Na ala mais conservadora, empunhando como principal bandeira a revisão da lei do desarmamento, Bolsonaro executou seu lance mais ofensivo no último dia 7 de março, ao deixar o PSC e se filiar ao PSL, após ensaiar uma ida para o PEN-Patriota. Na solenidade que marcou sua entrada no Partido Social Liberal, o segundo lugar das pesquisas de intenções de voto – atrás apenas de Lula – prometeu transformar a bancada da bala na “da metralhadora”, para “defender a liberdade e a vida”.

Jogo aberto no xadrez eleitoral
Com base em articulações e movimentos ocorridos até 29/03, data de fechamento desta edição

 

Fica a pergunta, ele conseguirá manter o fôlego competitivo quando a campanha de fato estiver nas ruas e nos meios de comunicação? “Difícil saber. Afinal, impropérios que Bolsonaro já disse não alteraram sua popularidade. Então, não é de se espantar se mesmo no momento em que ele ‘mostrar as caras’ sua intenção de votos se mantenha. Nesse sentido, tende a ser um candidato forte eleitoralmente, com chances reais de ir para o segundo turno. Vencer é outra história. Quanto às esquerdas, vão se unir contra ele. Mas e o PSDB, o PMDB e o DEM, por exemplo? E os empresários? O pragmatismo de alguns desses atores pode fazê-los compor com Bolsonaro, especialmente se um Ciro no segundo turno, por exemplo, representar uma ameaça aos seus interesses. Marina seria o meio-termo. Com Alckmin, Bolsonaro não teria esses apoios, definitivamente. Mas aí o problema seria outro. Alckmin teria apoio popular, incluindo a esquerda, para vencer Bolsonaro? E Marina? Há muitas questões ainda em aberto neste momento”, explicou o professor.

Terceiro lugar nas eleições de 2014, com 22 milhões de votos pelo PSB, Marina Silva agora é a pré-candidata do Rede. Naquela disputa, era vista como uma terceira via para o público que não queria aderir a um dos lados na polarizada disputa Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), conseguindo crescer ao longo do embate. “Com uma eventual saída de Lula, não vejo essa condição de terceira via a ser assumida por Marina este ano. Isso porque a eleição não ficará polarizada entre um candidato tucano e outro petista. Ela, agora, é apenas mais uma, e desconfio que até menos competitiva que em 2010 e 2014”, comentou De Angelo.

Outra questão em jogo é sobre uma eventual união da esquerda já no primeiro turno, algo pouco possível. “Cada legenda buscará defender o seu projeto e sua visão para o país. No segundo turno, acredito que a aliança é muito provável, com maiores chances em torno de Ciro Gomes. Com Marina, considero incerta essa união, a não ser que seja contra Bolsonaro”, destacou o sociólogo. Confirmando essa tendência, Ciro já sinalizou que é remota a coalização na “primeira batalha” nas urnas, mas declarou: “Estaremos [a esquerda] todos juntos num segundo turno, que ninguém duvide”.

Jogo aberto no xadrez eleitoral

 

O impacto do fator Lula, preso ou solto, candidato ou não, também deixa em suspenso a ação do próprio PT e as estratégias a serem adotadas por seus adversários. Mas algo é certo, segundo De Angelo: “A saída de Lula (da disputa) tem impacto direto. Todos se beneficiam com isso, por ganharem seus votos, com maior intensidade para Bolsonaro, Ciro e Marina. O PT deve lançar candidato visando a fazer a defesa de Lula e dos governos petistas. E isso inviabiliza a união da esquerda no primeiro turno (…). É um quadro absolutamente diferente do de 2014. Temos um passado, vivido nesses quatro anos, inimaginável em 2014. Cito apenas a dimensão da Lava Jato e o impeachment de Dilma. Se Lula vier a ser preso ou impedido de disputar, teremos um outro fato-chave para os rumos de 2018”, finaliza o especialista.

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