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quinta-feira, 28 março, 2024

Home office: mais tempo, mais produtividade

Considerado por muitos especialistas como tendência irreversível para o mercado de trabalho, o home office pode trazer benefícios tanto para as empresas quanto para os colaboradores diretos ou indiretos. Quais os desafios desse novo modelo?

* Por Yasmin Vilhena

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Se você trabalha oito ou nove horas por dia como grande parte da população brasileira, é bem provável que já esteja de pé em torno das 6h00 para dar início a mais uma jornada.  Afinal, haja tempo para realizar tarefas aparentemente simples,  como tomar banho, arrumar-se, fazer a primeira refeição do dia, passear com o cachorro e levar os filhos à escola quando necessário. Isso sem contar com o trânsito, cada vez mais intenso no Estado, assim como em todo o Brasil, fazendo com que muitos profissionais, sejam eles empresários ou colaboradores, tenham que sair muito cedo de suas residências para chegar a tempo no serviço.

Mas e se essa realidade fosse diferente? E se você pudesse ter a oportunidade de executar as suas obrigações dentro de casa e sem interrupções? Uma ideia bastante tentadora, até porque estamos falando de uma situação que, querendo ou não, gera mais conforto, segurança e flexibilidade para quem a pratica. Também não podemos deixar de apontar a melhoria da qualidade de vida, pois ainda é permitido reservar aquele espaço para a vida pessoal, desde que não interfira na produtividade. Algo que pode ser alcançado com o home office, uma tendência que promete se destacar ainda mais dentro do mercado de trabalho, principalmente para os gestores, que terão uma economia significativa em seus gastos diários.
Home office: mais tempo, mais produtividade
Prova disso é a Pesquisa Home Office 2016, realizada pela SAP Consultoria em RH, com mais de 300 empresas de diferentes segmentos e portes, nas diversas regiões brasileiras. Segundo o levantamento, 37% das firmas ouvidas adotam essa prática, e 68% possuem alguma modalidade de teletrabalho (trabalho à distância que faz uso de ferramentas de tecnologia), que além do home office engloba ainda o trabalhador de campo (responsabilidades cumpridas em campo), o centro compartilhado (atividades junto aos chamados “centros satélites”, locais disponibilizados pelas empresas com toda a infraestrutura necessária) e o trabalho colaborativo (executado com equipes multidisciplinares e/ou internacionais em diferentes locais).

E dois dos principais ganhos em relação a essa nova vertente são o aumento da satisfação e o engajamento dos colaboradores. Do total de entrevistados, 89% afirmam que essa é uma boa prática para atração de funcionários, ainda mais em tempos de crise, conforme apontam 66% das empresas, que acreditam ser o home office uma boa ferramenta para enfrentar períodos de recessão econômica.

Um sucesso que pode ser visto não só no Brasil como também em outras regiões do mundo, principalmente em países como China, Singapura, Austrália, Bélgica, Luxemburgo e Reino Unido. Um estudo feito pela Worldatwork em 2013, com 566 companhias, concluiu que 88% das organizações consultadas possuem uma política definida desse tipo de atividade.

Mas para que tudo dê certo é preciso ter muito foco para assegurar a produtividade, conforme aponta a especialista em Recursos Humanos Daniele Guidoni. “Não são todos os profissionais que conseguem ser eficientes em casa. Muitos produzem melhor com a pressão e a cobrança do dia a dia, assim como a movimentação de um escritório. E acredito que este seja o perfil da maior parte de nós brasileiros, haja vista, algumas reportagens que lemos sobre a baixa produtividade do profissional do país quando comparado aos de outras nações”, afirma.

Segundo ela, o profissional deve ter algumas competências essenciais para que consiga desenvolver bem a sua função em casa. “A primeira delas é disciplina, tendo um horário para trabalhar, não importa o quão flexível esse período possa ser. A segunda competência é a administração de tempo, pois é muito fácil nos perdermos quando não temos agenda. Então você precisa ter planejamento e organização e saber escolher suas atividades do dia a dia em função das suas metas e objetivos. Outro ponto importante é que não adianta trabalhar muito, tem que trabalhar certo. E para isso você precisa ter foco e visão estratégica, pois sozinhos, muitas vezes trabalhamos e não paramos para pensar sobre a consequência do trabalho”, complementa.

De acordo com Cleo Carneiro, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt) e diretor do Grupo de Consultoria em Teletrabalho (Gcontt), o sucesso do home office também depende muito de uma política dentro da empresa, baseada em diagnósticos que de fato possam trazer benefícios tanto para os patrões como para as colaboradores e as prestadores de serviço.

“A tendência é avançar cada vez mais. Vale a pena lembrar que para que um programa de home office dê certo, precisa ser muito bem estruturado. Não dá certo fazer essa atividade de maneira informal, do tipo ‘ah, hoje você pode trabalhar na sua casa’. Para colher os benefícios, é preciso que haja uma política baseada em um diagnóstico ligado a questões como a cultura da empresa, a cultura gerencial, os processos, o setor jurídico e a tecnologia da informação. Quem é ilegível, qual é o regime, quem paga as despesas, qual o impacto no contrato de trabalho, dentre outros aspectos. Isso precisa ser muito bem estruturado”, destacou Cleo Carneiro, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt) e diretor do Grupo de Consultoria em Teletrabalho (Gcontt).

PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS

A popularidade e o crescimento do home office se devem a muitos fatores, principalmente o avanço da tecnologia ao longo dos anos. Em 2004, o acesso à internet por computador abrangia 6,3 milhões (12,2%) dos domicílios brasileiros, passando para 28,2 milhões (42,1%) em 2014, conforme dados do Suplemento de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2014, realizado em parceria com o Ministério das Comunicações.

Se formos analisar o contato com a web por equipamentos diferentes do computador, como smartphones, tablets e televisão, também é possível observar um crescimento, com 48% dos lares com acesso à rede em 2013 e 54,9% em 2014 (ou 36,8 milhões). No ano passado, cerca de 16,5% (11,1 milhões) das casas brasileiras tinham tablet; um aumento de 5,7% em comparação a 2013, quando a presença desse equipamento foi apurada pela primeira vez. Aliás, em relação a 2013, os acessos domiciliares à internet pelo aparelho cresceram 50,4%.

“A tecnologia apoia essa prática, pois as pessoas podem trabalhar dentro de casa, ou em outros lugares como um cyber café. Mas é claro que ela é só uma vertente desse crescimento, até porque são os benefícios do teletrabalho que estão levando a essa expansão. Existem pontos positivos muito grandes para a empresa, como a própria redução do espaço físico e o aumento de produtividade, além da atração e da retenção de colaboradores. Já para os funcionários, um ponto que faz a diferença é o tempo de deslocamento para o trabalho, que normalmente é bastante longo nos horários de pico. Com esse tempo livre, eles podem se dedicar a outras atividades, como estudar e se exercitar”, complementa Carneiro.

E mesmo que o Espírito Santo não apresente períodos de pico tão extensos como os de outras grandes capitais brasileiras, dependendo do local onde se mora e da forma de deslocamento, é possível ficar até quatro horas por dia preso no trânsito. Se botarmos na calculadora para averiguar todo esse tempo no congestionamento, os números assustam, afinal, os trabalhadores podem perder 20 horas por semana, 80 horas por mês e 960 horas por ano, somando 40 dias inteiros ao longo de 12 meses no trajeto entre a casa e o serviço.

Mas é claro que se formos analisar a situação da Grande São Paulo, por exemplo, essa realidade vai muito além. Até mesmo no Rio de Janeiro, que vem aumentando de maneira significativa o número de veículos nas ruas. E o “para e acelera, para e acelera”, além de irritar bastante os condutores, também influencia no gasto mensal de locomoção.

“Moro na Glória e trabalho na Barra da Tijuca, ou seja, me desloco da zona sul para a zona oeste. O engarrafamento para lá é complicado, ainda mais para quem anda de ônibus. Isso sem contar com os dias de chuva, que podem aumentar e muito o tempo perdido dentro do engarrafamento, tanto para quem usa transporte coletivo, quanto para quem anda de carro. Acredito que demore até umas duas horas e meia. Além do trânsito que pego por conta desses percalços, ainda tenho que arcar com uma despesa mensal de aproximadamente R$ 1.200, que engloba a gasolina e o pedágio”, acrescenta a carioca Licia Rocha, gerente de Operações Comerciais, que é adepta do home office parcial, no qual o tempo se divide entre casa x empresa.

De acordo com Marcos de Souza, editor do Portal Mobilize Brasil, o home office pode ser considerado uma ótima ferramenta nos projetos de mobilidade urbana, – principalmente para desafogar o trânsito nos horários de pico –, além de contribuir com o meio ambiente e com o comércio local. “Os profissionais que trabalham em casa ajudam a dinamizar o comércio do próprio bairro, ou seja, começa-se a distribuir riquezas em outras regiões. Os escritórios normalmente se encontram em locais onde o capital se concentra, então se você só tem consumo naquela região, o dinheiro só circula por lá. Ao permitir que outras pessoas trabalhem fora desses bairros, você ajuda a redemocratizar essa distribuição de renda, ainda mais em bairros considerados humildes. Não tenho dúvidas de que o home office é um ingrediente importante nesse sentido, podendo ser incluído em um Plano Diretor de Mobilidade Urbana”, defende.

PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS

Adepto do home office, o publicitário Uerlle Costa começou a trabalhar dessa forma há cerca de dois meses, quando dividia o seu tempo em casa com uma agência de comunicação. Atualmente, ele se dedica 100% a essa prática depois de organizar um miniescritório dentro de seu quarto. Uma decisão muito bem tomada, avalia, principalmente por conta da produtividade, da segurança e da flexibilização alcançada.

Home office: mais tempo, mais produtividade“A praticidade que tenho é indescritível, até porque eu perdia muito tempo com deslocamento, pois moro na Serra e sempre trabalhei em Vitória. Outro ponto que me fez pensar muito nessa decisão foi a segurança, tanto na rua como dentro do transporte coletivo. Eu mesmo já fui assaltado uma vez indo para o trabalho, bem no ponto de ônibus. Colocaram até uma arma na minha cabeça, uma situação que me deixou muito inseguro e com receio de isso acontecer outras vezes. Além disso tudo, tem a questão da liberdade criativa, que no meu caso, flui muito mais dentro de casa. Não tenho interrupções”, aponta.

Mas para que de fato essa produção ocorra, Uerlle faz um alerta e destaca a importância de manter o foco. “Eu procurei ter a rotina de quando trabalhava na agência, ou seja, continuo acordando todos os dias por volta de umas 6h40 para me arrumar e começar a trabalhar umas 8h. No horário do almoço é a mesma coisa: faço um intervalo de uma hora e meia e depois volto com tudo para terminar as minhas demandas. Também busco trocar de roupa para criar todo esse ambiente de trabalho. Claro que não uso terno e gravata, mas tento vestir algo que me faça sentir bem para ir até a rua, ou até mesmo para encontrar com um cliente”, afirma.

Além da falta de foco, a possibilidade de excesso de carga de trabalho – quando não há um controle em cima da produtividade diária –, a tendência ao isolamento social e a falta de concentração também são desafios do home office. Portanto, é imperativo estabelecer regras para que ocorra um maior aproveitamento do tempo. “É preciso ter disciplina, não adianta trabalhar a hora que quiser. Essa questão do traje também é muito importante, pois não dá para ficar de pijama. É preciso dignificar o trabalho”, comenta Cleo Carneiro.

Segundo a analista de Atendimento do Sebrae-ES, Silvia Anchieta, “a orientação é criar uma rotina para que o planejamento e a organização das atividades sejam alcançados. Ter um espaço dedicado para o trabalho é outro ponto extremamente essencial, pois é necessário ter privacidade para desempenhar as funções. Lembrando que a família também precisa respeitar esse tempo para não deixar a rotina da casa interferir no trabalho, e vice-versa”, acrescenta.

Conseguindo aliar todas essas prescrições, o home office pode ser muito produtivo para todos os envolvidos, devido à redução de custos, à maximização do espaço físico e ao aumento da eficiência. Um artigo escrito por Manfred Mueller, diretor de Vendas e Suporte Técnico da TeamViewer, exemplifica bem esses ganhos, tanto para empregadores quanto para funcionários e prestadores de serviço.

“Trabalhar em casa significa menos estresse; menos estresse significa saúde mental em alta; e saúde mental em alta significa alta produtividade. Além disso, significa mais flexibilidade, no intuito de alcançar um melhor equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, especialmente para os funcionários que têm filhos e familiares idosos sob seus cuidados”, mostra Mueller em seu texto. Uma opinião também compartilhada por Paulo Henrique de Melo, diretor da Êxito Publicidade, que contrata pessoas nesse esquema. “Ganhei mais produtividade e também me beneficiei financeiramente com uma economia no espaço físico e em despesas como passagem e almoço. Vejo que a concepção muda com o home office, pois  não é mais uma relação de patrão/funcionário, e sim de cliente. E a comunicação flui de maneira tranquila, por meio de ferramentas como e-mail, WhatsApp e Skype”, destaca.

Para Uerlle, essa é uma tendência cada vez mais irreversível. “O sucesso profissional é importante, mas também precisa estar aliado à qualidade de vida. Acredito que a minha geração está repensando mais nessa questão do dinheiro, até porque quando você busca trabalhar em uma empresa mais tradicional acaba vendo que o salário pode nem ser tanta coisa assim. É preciso se reinventar. Claro que eu desejo prosperar financeiramente, mas sem deixar de lado a minha qualidade de vida. Neste momento, não me imagino trabalhando de outra forma. Estou muito feliz e satisfeito”, finaliza. 

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