23.8 C
Vitória
sexta-feira, 19 abril, 2024

Helder Salomão

Helder Salomão

Dos 38 anos de vida de Helder Salomão, 36 foram vividos em Cariacica. Filósofo, Helder começou sua atuação política na militância das comunidades eclesiais de base, nos movimentos sociais do município. Em 1992, foi eleito vereador; em seguida, depois de não sair vitorioso de campanhas para deputado estadual e prefeito, conseguiu uma vaga na Assembleia e em 2002 foi eleito prefeito de Cariacica.  Naquele ano, ele ainda não tinha ideia de que viveria na prefeitura um feito histórico: foi um dos dois únicos prefeitos que, em 30 anos, conseguiram completar um mandato e o único reeleito na história política da cidade. 

Nesta entrevista, Helder fala do desenvolvimento que sua gestão conseguiu empreender ao município e do processo sucessório, afinal, segundo ele, Cariacica precisa de mais três ou quatro administrações estáveis para continuar “brilhando no cenário estadual e nacional”. E brilhar, para ele, é sair da condição de “primo pobre” da Grande Vitória para se tornar o município que mais cresce e atrai investimentos em toda a Região Metropolitana.

- Continua após a publicidade -

Qual sua avaliação do momento atual por que passa Cariacica? E como o município está no cenário nacional?
Cariacica vive seu melhor momento político-administrativo. Ainda temos muitos problemas de infraestrutura, na área social, de planejamento urbano, enfim, problemas que se acumularam ao longo das décadas. Hoje, há estabilidade na cidade na relação com a Câmara Municipal, com a sociedade, com os governos do estado e federal. Por isso, nosso município está bem articulado. Cariacica conseguiu desenvolver projetos e ações inovadoras e empreendedoras reconhecidas no Espírito Santo e no Brasil. Temos muita coisa a comemorar e também muitos desafios. Creio que, na verdade, estamos vivendo um período de transição em Cariacica, passando de um município sem perspectiva de futuro, sem planejamento, sem incentivo ao servidor e sem investimentos na área social para um município que já conseguiu desenvolver em seis anos ações que superam o que foi feito nos últimos 30, 40 anos. Este é o melhor momento, em que precisamos consolidar nosso projeto e continuar investindo prioritariamente em três áreas: educação, saúde e desenvolvimento econômico com foco nas micro e pequenas empresa.

Historicamente, Cariacica é considerado um município de baixa receita e de poucos investimentos. Em sua avaliação, quais são as razões para isso?
A realidade do município hoje é fruto dos problemas que tivemos nas últimas décadas, de falta de estabilidade, de planejamento, de continuidade administrativa e de articulação política com os entes federados. Era muito tensa a relação entre o Executivo e o Legislativo. Em 30 anos, por exemplo, o município teve 17 prefeitos, quando devera ter tido apenas oito. A instabilidade política e a falta de planejamento seriam as razões para isso. Estamos superando, em seis anos, índices, números e desafios que deveriam ter sido superados há 30, 40 anos. Em 2009, por exemplo, tivemos a maior taxa de crescimento de emprego na Grande Vitória. Isso nunca tinha acontecido. Quando eu assumi a prefeitura, eram R$ 282 de receita per capita, ou seja, de arrecadação por habitante/ano. Este ano vai ser o primeiro da história do município em que vamos ter mais de R$ 1.000 de receita per capita. Isso se deve à nova dinâmica que estamos implementando no município, com novas empresas se instalando. Definitivamente, Cariacica hoje tem uma participação expressiva no cenário do Espírito Santo. Segundo dados do Sebrae e do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Cariacica tem um crescimento médio de 29% ao ano, maior do que a maioria das cidades capixabas. Isso significa dizer que deixamos de ser uma cidade sem perspectivas. Nos próximos dez anos, seremos um município com uma potência muito grande no que diz respeito à atração de investimentos, geração de empregos e aumento da capacidade de investimento. Em 2005, eram R$ 11 milhões de investimentos ao ano. Neste ano, temos chances de chegar a R$ 100 milhões. Esses números mostram a forca da cidade neste momento.

Como a sua gestão contribuiu para este momento econômico de Cariacica?
A primeira coisa foi que criamos um ambiente favorável na cidade, de confiança da classe empresarial. Quando assumi, raramente um empresário procurava a prefeitura para buscar uma área para se instalar aqui. O que víamos era empresário querendo sair do município, como muitos saíram. Agora, não damos conta de atender toda a demanda de novas empresas em Cariacica. Não temos todas as áreas com infraestrutura, por isso, temos alguma dificuldade. Cariacica é hoje uma das cidades do Espírito Santo que mais recebe novos investimentos. Em quatro anos, tivemos a vinda de mais de 4.500 empresas, a maioria micro e pequena, mas também médias e grandes, como o grupo norueguês Framo. Podemos citar também a Ambev e a JAC Motors, cuja distribuidora para todo o Brasil está instalada em Cariacica.

Onde estão os desafios e as oportunidades em Cariacica?
O principal desafio é dotar as áreas de infraestrutura. Temos, aproximadamente, 40 milhões de metros quadrados definidos como zonas especiais voltadas para desenvolvimento econômico. Destes, pelo menos a metade pode ser usada sem muitas dificuldades de acesso. Só que o município não tem recurso para fazer infraestrutura. Por isso, estamos fazendo parcerias com as empresas e buscando apoio do governo do estado. Não precisamos crescer mais rapidamente do que estamos crescendo. Temos que manter o ritmo de crescimento. Com relação às oportunidades, elas estão em logística (o carro chefe da nossa economia); serviços, porque Cariacica se consolida como grande polo de serviços; móveis sob encomenda, cujo polo é um dos mais bem conceituados do Brasil; confecções; metalmecânica, e setor imobiliário.

O senhor conquistou duas vezes o prêmio Prefeito Empreendedor. O que é ser um prefeito empreendedor?
É ousar e ter criatividade; é ver uma pequena luz no fim do túnel e transformar aquilo em uma grande oportunidade. Empreende quem acredita na mudança, quem quer fazer coisas novas e dar soluções para os problemas. Ter atitudes empreendedoras é inovar, é fazer projetos de grandes resultados e grande impacto social com poucos recursos e trabalhar envolvendo as pessoas nos projetos.

Cariacica incentiva muito as MPEs e investe nelas. Isso é algo estratégico para a prefeitura? Por quê?
Sim, porque, assim, nós potencializamos o desenvolvimento local e estimulamos a economia local. Hoje, no Brasil mais de 98% das empresas são MPEs. Por que então não olhar para este segmento como estratégico? Para nós, é um grande negócio investir nas MPEs, porque elas estimulam a geração de empregos, abrem oportunidades, promovem inclusão social e cidadania e fazem com que o município tenha novas perspectivas. Cariacica hoje está entre os 30 municípios do Brasil que mais cadastraram empreendedores individuais.

Uma pesquisa recente do Instituto Futura mostrou que a atuação da prefeitura foi avaliada negativamente por 30,3% dos moradores. Além disso, a imagem positiva do senhor também teve um decréscimo. Por quê?
São três fatores que podem explicar essa relativa diminuição na aprovação. Primeiro, tivemos um período de crise entre 2009 e 2010, e a arrecadação foi reduzida em R$ 40 milhões. Tivemos que fazer cortes, principalmente no custeio e deixamos de fazer 50 obras, que serão retomadas neste ano. Entretanto, passamos pela crise com as finanças em dia. Em segundo lugar, a pesquisa foi feita em plena chuva. E passamos pela pior enchente em Cariacica, que trouxe grandes problemas. Tivemos um prejuízo de R$ 6 milhões com vias públicas danificadas por conta das chuvas. O terceiro fator é o acesso a Vitória, que estressa as pessoas e é um problema para o qual não temos solução. A duplicação do Contorno também tem trazido muitos transtornos à população.

Essa avaliação influencia na formação do seu sucessor?
A pesquisa pode influenciar, mas o que influencia definitivamente uma articulação é a credibilidade de um governo, e o nosso tem muita credibilidade. Neste ano, meu foco está voltado para a administração, mas vou trabalhar com afinco para fazer um bom final de governo e também para fazer a sucessão no ano que vem.

Como está sendo construída a sucessão?
Eu não tenho candidato ainda, mas terei. O nosso candidato será lançado pelos partidos da base aliada, o PT e os demais partidos. Antes de o candidato ser lançado, vamos conversar muito, buscar encontrar um nome que possa representar os anseios e o projeto que hoje é liderado pelo PT, mas que tem 11 partidos que participam na base aliada. Vamos ter sim um candidato e eu vou estar de corpo e alma na campanha. Mas agora não é hora de fazer campanha, mas sim de melhorar a vida da população.

Podemos esperar uma candidatura sua para o Legislativo ou até mesmo para o Executivo estadual em 2014?
Eu posso avaliar, se for convidado para contribuir em algum espaço. Hoje, eu tenho uma compreensão melhor da gestão pública. Se receber algum convite, vou analisar. Mas eu não tenho necessidade de ficar buscando nenhum espaço. Se serei candidato no futuro ou não, não sei. Sei que quem planta em terra fértil tem grandes chances de colher bons frutos. O restante é consequência. Se encerrar bem o mandato, as outras coisas vêm por acréscimo. E eu estou preparado para enfrentar os desafios na vida.

Qual legado o senhor sonha em deixar depois de terminada sua gestão?
O legado que queremos deixar é o do planejamento estratégico, da ética, do combate à corrupção, da participação das pessoas, das parcerias. Isso, certamente, beneficia o município, tornando-o melhor do que já é hoje.

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Matérias relacionadas

Continua após a publicidade

EDIÇÃO DIGITAL

Edição 220

RÁDIO ES BRASIL

Continua após publicidade

Vida Capixaba

- Continua após a publicidade -

Política e ECONOMIA