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sexta-feira, 29 março, 2024

Fábio Coelho: Um capixaba à frente do Google Brasil

Fábio Coelho: Um capixaba à frente do Google Brasil

Nascido em Vitória, Fábio Coelho deixou o Estado para estudar engenharia no Rio de Janeiro.
Depois de quase 10 anos na capital fluminense foi para os Estados Unidos, onde se especializou na Universidade de Harvard e foi diretor de marketing de empresas como Gillete e Quacker. Tempo depois, como presidente do negócio digital da gigante AT&T, Coelho entra definitivamente na área da internet.

* Por Vitor Taveira

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Hoje, ele comanda o Google no Brasil, considerado um mercado estratégico para a empresa global. Apesar de ter deixado o Espírito Santo há mais de 30 anos Fabio Coelho ainda guarda um forte vínculo e um grande carinho pelo Estado, onde moram seus pais e que visita a cada três meses. Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre sua relação com seu local de nascimento, sobre a gestão da empresa e os negócios na área de internet.

– Pouca gente no Espírito Santo sabe que o presidente do Google no Brasil é um capixaba. Conte-nos um pouco de sua relação com o Estado.

Eu nasci em Vitória e meus pais até hoje moram em Bento Ferreira. Estudei no colégio Salesiano e depois no colégio Nacional e saí de Vitória com 16 anos quando fui estudar engenharia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas eu sou um capixaba, sou torcedor da Desportiva Ferroviária e frequentava o Estádio Engenheiro Araripe. Gostava também de pescar com meu avô em Jacaraípe. Tenho meus pais e muitos amigos em Vitória e vou aí a cada três meses. Passei dez anos fora do Brasil, mas mesmo assim fiz questão de batizar a minha filha na Catedral de Vitória, e depois fizemos uma festa no Hotel Senac. Ou seja, estou conectado com a cidade. Saí de Vitória, mas Vitória não saiu de mim. Quis voltar ao Brasil até para que minha filha pudesse entender a realidade de onde a gente vem, o que para mim é muito importante.

– O que mudou no Estado desde que saiu daqui até hoje? Como analisa a economia capixaba dentro do contexto brasileiro?
Eu vejo o Espírito Santo como um Estado progressista, que tivemos uma melhora grande em nossos indicadores econômicos e o Estado conseguiu deixar de ser um Estado com Índice de Desenvolvimento Humano baixo para se situar entre médio e alto. Me lembro da época em que o Espírito Santo era tratado quase como se fosse um Estado nordestino, até mesmo na questão do tratamento tributário. O Estado tem várias vertentes de crescimento que são extraordinárias. Toda área portuária cresceu muito nos últimos 30 anos, a exportação e importação, o Estado tem uma vocação natural para o comércio exterior. Na questão do petróleo também vem sendo um grande protagonista aqui no Brasil. Vejo a economia capixaba em franco progresso. Temos um Estado com a mão-de-obra boa, o capixaba é uma mão de obra boa, é bem localizado geograficamente, perto do Rio de Janeiro, dentro da Região Sudeste, sendo um lugar menor, mas estrategicamente perto. A economia capixaba vai bem e acho que continuaremos sendo um dos bons Estados brasileiros.

– Como foi que saiu do Espírito Santo e qual foi a sua trajetória até chegar à presidência do Google?
Eu saí de Vitória em 1980, morei no Rio de Janeiro durante quase 10 anos fazendo graduação e pós graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 89 eu fiz um curso em Business Administration na Universidade de Harvard, depois eu trabalhei 10 anos com produtos de consumo, fui diretor de marketing da Gillettee da Quacker. No ano 2000 entrei na parte de telecomunicações de uma empresa que no Brasil se chamava BCP, que era parte da AT&T. Nesse período eu fiquei oito anos morando fora. Lá nos Estados Unidos eu saí da área das telecomunicações dentro da mesma empresa e fui presidente dos negócios de internet da AT&T. De 2004 para cá eu trabalho com internet, sendo os primeiros seis anos nos Estados Unidos, e isso abriu as portas para voltar ao Brasil e estar liderando o Google desde o final de 2010.

– Como foi que se relacionou com a Internet? Foi algo que o trabalho de conduziu ou uma motivação sua?
As duas coisas. Estar trabalhando em telecomunicações me permitiu entender um pouco de como a internet podia transformar as telecomunicações e a sociedade como um todo. Isso me deixou muito interessado em aprender mais sobre área e dentro da própria AT&T me direcionar para a internet. Em 2004 quando houve uma mudança de diretoria, me convidaram para ser diretor desse negócio. Lá consegui continuar executando um bom trabalho, fazendo o negócio crescer e me especializando bastante nessa área.

– Como é sua rotina de trabalho na presidência do Google Brail?
O Google é uma empresa de tecnologia digital que ajuda empresas a fazer negócios de uma maneira mais eficiente através da internet. Tendo isso em conta, eu organizo meu trabalho da seguinte maneira: visitamos muitos clientes para mostrar como podem usar a plataforma do Google buscas, o YouTube, e-mail, e como elas podem usar a plataforma do Google para gerar negócios eficientes. Tenho que estar muito preocupado e dedicar parte do meu tempo discutindo negócios com o cliente. Outra parte está dedicada a explicar para o ambiente brasileiro, de empresas, governo, sociedade como a internet pode tornar a sociedade melhor. São três partes grandes: uma com clientes, outra com sociedade e governo e a outra com os funcionários, os Googlers. Há dois anos tínhamos 300 pessoas no Brasil e hoje temos quase 600,entre engenheiros e equipe comercial. Então a manutenção da cultura corporativa, a garantia de que os funcionários estão preparados e sabem o que fazer, o apoio para ajudar no desenvolvimento deles, também consomem uma boa parte do meu tempo. Além disso, tem um pedaço pequeno que eu dedico ao Google Estados Unidos, que é um relacionamento bastante fácil, porque é uma empresa muito global e temos uma série de alinhamentos de projetos globais. Então isso consome menos tempo do que o resto das atividades.

– As vagas para trabalhar no Google são muito concorridas. Por que as pessoas querem trabalhar aí?
O Google foi eleito por três anos consecutivos como a melhor empresa para trabalhar no Brasil. Foi eleita a empresa dos sonhos dos jovens e acabou de ganhar um prêmio de empresa dos sonhos dos executivos. Por que as pessoas querem trabalhar no Google? Porque conseguimos conciliar três fatores muito importantes. Primeiro, ser uma empresa que tem um propósito de transformação social através do engajamento dessas pessoas. Então trabalhamos em várias causas que engajam as pessoas. Além de qualquer outro aspecto monetário, essas pessoas se sentem realizadas em trabalhar aqui. A segunda coisa muito importante é que o Google é uma empresa global bastante generosa no sentido de buscar retribuir para profissionais qualificados um ambiente de trabalho de alta qualidade. Temos metas agressivas, cobramos bastante dos funcionários, mas ao mesmo tempo retribuímos com um ambiente de qualidade no qual as pessoas se sentem com vontade de ficar nele. Não é um ambiente para chegar, trabalhar, entregar o resultado e ir embora. Nos preocupamos com todo o bem-estar físico, social, intelectual de cada uma das pessoas aqui dentro. A terceira coisa é que isso traz gente muito boa para nosso processo seletivo, o que é estimulante. No ano passado para cada vaga nossa havia 250 candidatos. Eu gosto muito de trabalhar com gente inteligente, que me desafia intelectualmente, isso ajuda bastante.

– Qual o diferencial do ambiente de trabalho do Google?
É um ambiente de altíssima performance, é bom deixar isso claro. As pessoas são estimuladas a pensar grande, a buscar resultados no mercado, a fazer grandes negócios. Há todo um investimento em desenvolvimento, os profissionais aprendem a mexer com as ferramentas do Google, que são excelentes. É um ambiente com muita gente boa, bem intencionada, bem preparada e que convive com um propósito bastante claro de gerar negócios para nossos clientes e gerar melhorias para a sociedade. As pessoas muito inteligentes geralmente não gostam de uma supervisão muito direta, de ser cobradas o tempo todo. Então elas têm uma relativa autonomia para trabalhar desde que entreguem resultados. O sistema de metas e de cobranças é trimestral. A cada três meses eu sei exatamente quem produz mais, quem produz menos. Logicamente temos planos de apoio e desenvolvimento diferenciados para cada pessoa.

– O senhor diz que busca que os funcionários tenham ownership. Por que isso é importante?
Todos os funcionários do Google tem opção de compra de ações. Mais de 90% deles têm ações. Isso transforma os funcionários um pouco em donos também. Tem dois tipos de cultura que podemos considerar nas empresas: ou a pessoa participa da empresa ou se sente dono dela. Eu faço questão que as pessoas se sintam donas da empresa, donas de seu tempo e que a gente cobre resultados. Esse é o conceito do ownership na companhia. As pessoas são estimuladas a trazer resultados e a gente não fica microgerenciando cada um.

– De um motor de buscas, o Google passou a agregar uma série de serviços que fazem parte do cotidiano das pessoas conectadas com a tecnologia. Qual a linha que une todos esses produtos e serviços?
A linha mestra que permeia e conduz todos esses serviços é a missão do Google, que é agregar toda a informação disponível no mundo e tornar essa informação disponível, acessível e estruturada. Tudo começou organizando pesquisas de pós-graduação na universidade de Stanford, quando os dois fundadores da empresa, Larry Page e Sergey Brin,queriam ter acesso a papers e trabalhos organizados em outras universidades. Eles viram no início que as informações poderiam ser indexadas e organizadas num buscador, que então eram links que levavam a determinados conteúdos impressos, de texto. Com o tempo se agregou imagens e plataformas como oYouTube, que é audiovisual. Com a tendência mais recente de mobilidade agregamos toda a parte dos sistemas operacionais como Android e Chrome, através dos quais conseguimos disponibilizar em qualquer tipo de aparelhos seja de computador, tablet ou aparelho móvel.

– Muitos serviços oferecidos pelo Google são gratuitos, porém a empresa consegue obter lucro através de publicidade que pode estar relacionada com estes mesmos produtos gratuitos. Como é que funciona isso na empresa?
Nossa plataforma tecnológica tem os links patrocinados, quando você faz uma busca tem os links orgânicos, que são gratuitos. Por exemplo, se você busca cabelereiro ou restaurante em Vitória. Vão aparecer vários. Mas se algum cabelereiro ou restaurante quiser aparecer no topo da lista, as três primeiras posições, que aparecem com uma cor diferente, são pagas. Aquele link é patrocinado, se paga para ficar naquele link. Não só os três de cima como os do lado direito. A ideia é promover essa acessibilidade para quem queira estar presente na web. Isso é uma forma de agregar informação e fazer com que um restaurante que às vezes está lá embaixo possa colocar o serviço lá encima, por exemplo.

– O Google é um dos principais responsáveis pela quebra de um paradigma da imprensa de massa para uma nova forma de acesso à informação. Isso criou novas formas de mobilização social ou foi a demanda do público por uma nova forma de acesso que levou à criação desse tipo de serviço?
Desde que o mundo é mundo as pessoas sempre tiveram curiosidade, o que o Google faz é facilitar o acesso à informação. Ao organizar e torná-la acessível, estamos tornando o quê acessível? O conhecimento, cultura, diversão entretenimento, educação, e isso faz com que tenhamos uma sociedade conectada através de telefones celulares e computadores, o que forma uma sociedade melhor, mais transparente, educada, informada e que se indigna quando começa a tomar conhecimento de certas situações que antes estavam distantes mas que agora passaram a ser visíveis. Vale lembrar que a Guerra do Vietnã começou a acabar quando as revistas americanas publicaram em suas capas fotos de crianças desesperadas fugindo de bombardeiros. Uma coisa é você saber o que algo está acontecendo e outra poder saber detalhes, ver fotos, acompanhar. O Google promove uma sociedade mais conectada, mais engajada e realmente mais mobilizada. Nós entendemos que somos parte de um planeta, que os nossos recursos são finitos e que- utilizando o mesmo conceito dos Googlers, que também vale para a sociedade-você pode participar do planeta ou se sentir dono dele. Ao se sentir dono do planeta, a gente tem a obrigação de atuar em determinadas causas como sociedade. Ajudar a sociedade a se mobilizar e conectar para, por exemplo, diminuir o desmatamento da Amazônia, c tornar a população mais educada e informada sobre determinados problemas do planeta, sem ganhar uma cara de ativismo político mas mostrando quais as necessidades e as grandes áreas de oportunidade que existem para a sociedade.

– Poderia citar exemplos de como o Google ajuda e melhora a vida das pessoas?
A Revolução do Egito, por exemplo. Um diretor do Google foi um dos principais organizadores desse movimento na Praça Tahir e ficou preso por vários dias. O Google tem uma atuação que é tentar deixar as pessoas conectadas. Como cortaram a internet durante a Revolução do Egito, o Google criou uma ferramenta para permitir que as pessoas se comunicassem mesmo sem ter internet, chamada SpeaktoTweet, que permitia se comunicar através de pequenas mensagens de texto, quase como se fossem torpedos, que ajudaram a mobilizar as pessoas. O Google também tem várias ferramentas para ajudar em momentos de catástrofe. Por exemplo, existe um software de achados e perdidos que foi muito bem utilizado quando tivemos um terremoto na China, o tsunami no Japão e o furacão Katrina nos Estados Unidos. São ferramentas nas quais as pessoas vão postar: “Perdi o meu pai e estou no lugar tal”, e o pai vai dizer “estou perdido no lugar tal”, e essa ferramenta consegue juntar as pessoas.

– O Brasil é um dos grandes países onde o Google vêm apresentando maior crescimento. Por quê?
O brasileiro adora internet, é um povo super conectado e super social. Adora vídeo, então o YouTube é um enorme sucesso no Brasil. O nosso crescimento tem a ver com fato do país que estar melhorando, com uma classe média que vem crescendo, com os tablets que estão ficando mais baratos, com os brasileiros querendo cada vez mais ter smartphone para ficar conectado. O Brasil é um dos principais mercados do mundo e os americanos consideram o Brasil um mercado excepcional.

– Com a Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016, os olhos do mundo devem se voltar para o Brasil. O Google possui alguma estratégia especial para esses eventos?
Temos mas ainda é confidencial. O máximo que posso falar é que vem muita coisa boa para o Brasil por conta desses eventos. O evento deve aumentar os negócios do Google porque todos vão querer estar visíveis e ser encontrados pelos estrangeiros que vêm para cá. Toda a parte de mapas, tradutores, serão muito úteis durante o evento.

– A falta de um marco civil para a internet pode gerar uma série de problemas. O senhor chegou a ser detido porque a empresa se negou a tirar um vídeo do ar. Quais os limites da liberdade na internet? O que é de responsabilidade do Google e o que é de responsabilidade do usuário?
A responsabilidade é do usuário, isso é uma discussão que nós temos que trazer para a sociedade e nós tomamos parte nessa discussão. O Google Brasil respeita as leis, mas também se dá o direito de recorrer. Se esgotarmos todos os recursos e não conseguirmos reverter a decisão, aí vamos cumprir a lei. Nós respeitamos a lei. Naquele caso específico quando houve uma decisão final nós retiramos o vídeo do ar mas não antes de haver esgotados os recursos jurídicos.

– A internet móvel é um mercado em pleno crescimento no Brasil. Como o Google está atuando neste setor?
Temos o sistema operacional móvel Android, que tem 70% do mercado no país, isso é um dado público. Acreditamos que a mobilidade é fator fundamental e que a conectividade da sociedade virá pela adoção da internet móvel. Já é uma realidade hoje, já há mais de 200 milhões de telefones mas as pessoas ainda têm uma conectividade muito básica, que é a de voz. Mas de voz pode passar a dados e conectividade através dos smartphones. O Brasil tem mais de 50 milhõs de smartphones hoje mas vai chegar a 200 milhões.

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