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sábado, 20 abril, 2024

Estados Unidos primeiro?

O Fórum Econômico Mundial realizado na cidade de Davos, na Suíça, termina neste dia 26 de janeiro de 2018 com a expectativa do discurso do presidente norte-americano Donald Trump. A imprensa noticia que o mote do discurso é “Estados Unidos primeiro” (“America First”).

Como pano de fundo, o anúncio de Mnuchin – o Secretário do Tesouro dos EUA – de que um dólar mais fraco é bom para o mercado americano. Os demais líderes estão mais preocupados em como melhorar a globalização e em como convencer a sociedade de que o modelo é bom. Macron, presidente francês, defendeu a tese em seu discurso. Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, alertou para o fato de que a globalização está perdendo lentamente seu brilho, a favor do protecionismo, ressaltando que o isolamento não é a solução.

No entanto, chamou a atenção – como uma das principais discussões no âmbito do Fórum – a questão do desemprego que está aumentando em diversas partes do mundo, por conta da substituição do homem pela tecnologia no trabalho e suas consequências sociais. O que os governos, a iniciativa privada e a comunidade internacional devem fazer para solucionar esse problema foi pauta de conversas entre importantes líderes mundiais.

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Com relação à tecnologia que ameaça nossos empregos, desde 2016 já vínhamos analisando o problema nas conversas que fazemos nas nossas andanças por palestras no Brasil e no exterior: Francesco Farruggia (Campus Party), Peter Kronstrom (Kopenhagen Institute for Future Studies), Caio Vassão (FEA/USP) e eu, que dizíamos: A máquina vem substituindo o homem em uma velocidade impressionante em muitos setores e nossa avaliação é de que até mesmo nos trabalhos intelectuais, ali na frente, já teremos concorrência. Precisamos nos proteger e nossos governos não estão se preparando para isso.

Até acontecer o Fórum Econômico de 2018, muita gente nos chamou de malucos. Acho que somos um pouco, sim, mas nossas análises não estavam em descompasso com o que se discutiu em Davos. A questão é que muita gente ainda não conseguiu romper seus próprios paradigmas e não acredita que a máquina tenha capacidade de ser mais eficiente que o ser humano.

Muito embora a Revista Galileu tenha publicado a notícia de que na Escócia o robô Fabio foi “demitido” por incompetência, pois ele se mostrou bom de papo mas ruim de serviço, na Arábia Saudita a robô Sophia vem dando show, ganhando até cidadania naquele país e demonstrando bom aprendizado na área das emoções.

O Fabio que fracassou estava utilizando, na Escócia, o sistema da Apple, empresa norte-americana; Sophia utiliza, na Arábia Saudita, o sistema da Hanson Robotics, uma empresa sediada em Hong Kong, mas cujo dono é norte-americano.

Inevitavelmente, no mundo da globalização as fronteiras inexistem. A própria Apple tem acordos com os chineses para produção de seus equipamentos no país comunista de Xi Jinping. As grandes organizações, especialmente as de tecnologia, se tornaram transnacionais que atuam em todo o planeta, com suas benesses e seus malefícios. Obviamente, as empresas norte-americanas se beneficiam por demais com a globalização.

Toda a sociedade precisa ser preparada para os avanços tecnológicos, com uma revolução no sistema educacional em todas as partes do mundo, a fim de que as pessoas consigam compreender a tecnologia e com ela se integrar. O problema é que os governos são muito lentos para alterar suas estruturas e fazer reformas, especialmente na educação. Ter alianças com a iniciativa privada e diálogos permanentes com a comunidade internacional pode ser o melhor caminho para acelerar o processo de mudança, inevitável.

Os Estados Unidos têm importância fundamental nisso, tendo em vista que grande parte das empresas que desenvolvem tecnologias são sediadas ali, muito embora faturem no mundo todo. Espera-se que Donald Trump tenha seu momento de lucidez e coloque os interesses do planeta em primeiro lugar. Senão, teremos que acelerar outras estratégias que não poderão contar com os EUA e suas empresas. Estratégias existem e são factíveis. Assunto para o próximo artigo.


André Gomyde é presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas

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