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terça-feira, 23 abril, 2024

Leonardo Deptulski fala sobre as ações que vêm sendo adotadas para minimizar os problemas da Bacia do Rio Doce

Após quatro meses do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), um desastre ambiental sem precedentes no Brasil, os poderes públicos federal e estaduais do Espírito Santo e de Minas Gerais assinaram um acordo com a Samarco, a fim de recuperar a Bacia do Rio Doce.

*Por Luciene Araújo 

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Qual a situação atual da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (BHRD)?
Leonardo Deptulski – Esse levantamento está em andamento. O que temos de números é que o volume de rejeitos que se espalhou ao longo da BHRD foi de 32 milhões de metros cúbicos (m³), sendo que uma parte ganhou os 500 km do leito do rio, mas outra continua acumulada acima da barragem de Candonga (MG), onde temos trechos com até 1,5m de altura de lama depositada. A estimativa da ação civil pública apontada pelos técnicos do Ibama e das secretarias estaduais, de aproximadamente R$ 20 bilhões para as ações de recuperação e compensação, teve base em outros desastres ambientais. Mas não existe ainda um levantamento finalizado, dada a complexidade dos cálculos, nessa dimensão de estragos. Por isso, o acordo firmado entre União, estados e municípios não aponta limite de investimentos.

ESB Os trabalhos para minimizar os impactos do acidente se mostram efetivos?
LD A Samarco não estava preparada para um acidente dessa proporção. A falta de um plano de contingência para um problema como esse impactou negativamente. Ela foi se organizando, mas isso demorou um tempo que não deveria ocorrer com uma empresa desse porte, que trabalha com tal nível de risco ambiental. É preciso um plano de contingência, um sistema de monitoramento eficiente e equipes capacitadas dar para respostas mais rápidas. Estamos falando do maior acidente ambiental do país, muito grave.

ESB As consequências desse acidente vão mudar a postura das autoridades?
LD Certamente vão provocar profundas mudanças na atividade de mineração quanto ao armazenamento de rejeitos. Será preciso avaliar nos projetos o grau de risco ambiental em caso de vazamento, o quanto é elevado o risco de contaminação, de dano. Somente em Minas Gerais, temos mais de 600 barragens; imagine o tamanho do risco ambiental que isso representa à população
e à natureza.

ESB Após quatro meses do acidente, que ações foram concretizadas até agora?
LD Diversas ações de caráter emergencial, custeadas pela Samarco. Também foram iniciados estudos e monitoramentos que serão base para os 38 programas ambientais e socioeconômicos previstos no acordo. Entre eles: indenização das vítimas; reconstrução das comunidades; retomada das atividades agropecuárias; manejo e contenção dos rejeitos; recuperação de nascentes e áreas de preservação permanente; conservação e recuperação da fauna e flora; melhoria nos sistemas de abastecimento de água; saneamento básico, coleta e tratamento de esgoto.

ESB Enquanto o detalhamento dos valores não é concluído, o que tem sido feito por pescadores, agricultores e povos indígenas que dependem diretamente do rio?
LD A empresa assinou um Termo de Compromisso com o Ministério Público do Trabalho e irá pagar, por mês, um salário mínimo, mais 20% a cada dependente e uma cesta básica de R$ 360,00 a cada família que vive da pesca, com pagamento retroativo à data do rompimento da barragem, durante seis meses. A Samarco contratou empresa para o cadastramento dos trabalhadores e dos seus familiares e afirmou que mais de 10 mil pessoas serão visitadas.

ESB Mas em relação ao meio ambiente, o que já foi feito, além de monitoramento, no Estado?
LD Do ponto de vista de reparação do dano ambiental, pouca coisa. A empresa realizou a construção dos diques, próximos à barragem de Fundão, para conter a lama, que desceu no início deste ano com a cheia. Por isso uma das ações emergenciais é a retirada dessa lama que ainda pode ganhar o leito do rio. Antes da cheia, a turbidez estava abaixo de 500 NTUs, e com a cheia ficou acima de 2000 NTUs.

ESB Qual o impacto no abastecimento de água?
LD A chegada de lama em 2015 interrompeu o abastecimento de água em Colatina, onde o Rio Doce é a única fonte de captação para 122 mil pessoas. Então foi montado um plano de emergência: seis poços perfurados, reservatórios de 10 mil litros instalados nos bairros, caminhões pipas, e houve mutirões de distribuição de galões d’água. Mas mesmo assim tivemos sérios problemas por três semanas.

Efetuamos várias modificações nas estações de tratamento de água e passamos a usar um novo produto com capacidade maior de floculação. Com a cheia, a turbidez aumenta e aumenta também a frequência com que precisamos parar as estações de tratamento para limpar os filtros. Como existe esse risco, precisamos buscar saídas para não ter essa dependência completa do Doce.

ESB E qual o plano B de Colatina?
LD A Samarco está construindo dois sistemas alternativos de captação de água: um no Rio Pancas, para abastecimento da margem Norte da cidade; e outro no Rio Santa Maria do Doce, para atender à margem sul. E há uma negociação de que isso seja realizado também em todos os municípios que dependem da captação do Doce, como Governador Valadares, Conselheiro Pena, Resplendor, entre outros.

ESB Como atua o Grupo de Governança para a Crise Ambiental no Rio Doce e quais os resultados positivos já alcançados com esse trabalho?
LD O grupo reúne 21 instituições, e nós trabalhamos juntos – governos Federal, estaduais e municipais; e comitês – para efetivar a ação civil pública que resultou no acordo e na Fundação que irá administrar os recursos para ações de recuperação da BHRD. Além disso, foi criado o site www.governancapelodoce.com.br para informar a população sobre as ações do grupo. A expectativa é de que as ações de curto prazo já estejam sendo colocadas em prática neste mês de março.

ESB Para quando podemos esperar um Rio Doce recuperado?
LD O Doce já era muito degradado, na verdade já estava em situação crítica, tanto do ponto de vista da quantidade, quanto da qualidade da água. Esse desastre agravou ainda mais essa situação. E trabalhar com um período inferior a 10 anos é otimismo demais. Precisamos de uma década de muito trabalho e ações intensas para se visualizar um Rio Doce recuperado ainda mais para frente.

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