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sábado, 20 abril, 2024

Entrevista com Rodrigo Kede

Entrevista com Rodrigo KedeO presidente da IBM Brasil, que assumiu o comando da empresa em julho de 2012, chama a atenção pela pouca idade. Rodrigo Kede, 43 anos, construiu sua carreira na multinacional, começou como estagiário, passando em seguida por diversos setores da empresa até alcançar o cargo que ocupa atualmente. Formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Pontifícia Católica (PUC – RJ), com MBA em Finanças pelo Instituto Brasileiro de Mercados de Capital, ele tirou um aprendizado de todos os desafios que superou nesses 19 anos na companhia centenária: é essencial que um líder conheça a empresa que gerencia, e as pessoas são fator determinante para o sucesso de uma organização.

Você entrou na IBM Brasil em 1993, como estagiário. Hoje, ocupa a presidência. O que foi determinante para sua ascensão e a consolidação de sua carreira?

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A primeira questão determinante é saber escolher bem a empresa em que você vai trabalhar. A IBM é uma empresa grande, que faturou no ano passado mais de US$ 106 bilhões, tem mais de 400 mil funcionários, está em mais de 170 países no mundo. Então, o tamanho da empresa e a forma como ela trabalha me deram a oportunidade de estar sempre mudando de área e conhecendo alguma coisa diferente e, por causa disso, me desenvolvendo. Quando as pessoas me perguntam o que eu fiz de certo pra ter saído de estagiário e chegado a presidente, eu sempre digo que foi porque sempre procurei sair da minha zona de conforto. Sempre que aparecia um desafio diferente na empresa, eu me candidatava a resolvê-lo, mesmo que eu achasse que eu não conhecia nada da área. Sair da zona de conforto ajuda você a se desenvolver e isso é importante. A segunda questão determinante é muito trabalho. Nunca tive expectativa de que as coisas vão dar certo por sorte. Sorte é conseqüência das suas horas de trabalho. É claro que eu nunca abri mão de algumas coisas que são importantes, como saúde e família, mas empenhei muito suor. E o suor foi recompensado.

A IBM valoriza muito a formação de lideranças entre seus quadros. Para você, o que é ser um líder no mundo corporativo hoje?

A IBM é uma empresa que investe muito em treinamento, educação e em valores, e por isso foi eleita no ano passado a empresa que melhor forma líderes no mundo. É uma companhia que contrata muito na base e desenvolve os seus funcionários, dando oportunidades para eles, porque ela entende que um funcionário crescer dentro da empresa, dividindo os mesmos valores, é fundamental para o sucesso do negócio. Acredito que quando você tem uma posição de liderança, seja ela qual for, numa empresa, numa instituição ou até mesmo no governo, você passa a desempenhar um papel grande na sociedade. As pessoas olham muito para o que você está fazendo, e para o modo como você está fazendo; elas querem entender os seus valores, e acho importante poder passar para as pessoas que fazer as coisas certas, da forma certa, dá certo.

No contexto brasileiro, especificamente, que tipo de lideranças são mais necessárias hoje para fazer o país avançar?

O Brasil vai passar por uma onda grande de crescimento, e um crescimento diferente nos próximos anos. Nós, enquanto brasileiros, precisamos reforçar e decidir quais são os nossos valores. Mas sou um eterno otimista. Acredito que o nosso país está mudando. O Brasil de dez anos atrás era fundamentalmente diferente do que é hoje, e será ainda mais diferente daqui a dez anos. E no final, o que vai fazer a diferença são as pessoas.

Por ter construído sua carreira em diferentes setores da IBM e galgado diferentes funções você conhece bem a empresa. De que maneira esse conhecimento é capaz de te ajudar, em termos de gestão?

É mais fácil você gerir uma empresa quando você conhece ela de A a Z. Por eu já ter feito muita coisa dentro da IBM, conheço as pessoas, os processos, os produtos, e isso torna mais fácil a gestão. A forma com que eu trabalho possui pouca hierarquia, e apesar de a IBM ser uma empresa grande, as pessoas têm muito acesso a mim. E isso é bom, porque eu acabo botando a minha mão em tudo o que acontece na empresa, de certa forma. Eu acabo consumindo mais algumas horas do meu dia, mas tem um lado bom.

Pouco após assumir seu cargo atual, o sr. afirmou que “já existe uma nova IBM, que sempre vai ser conservadora na gestão, mas superflexível para mudanças e compreensão do cliente e necessidades de mercado”. O que é uma gestão conservadora e como uma gestão conservadora se articula com uma empresa inovadora?

Por ter 100 anos, a IBM é uma empresa tradicional, e é conservadora na gestão financeira. Por outro lado, é extremamente arrojada na inovação, na criação e nos modelos de negócio. São coisas bem diferentes. A IBM entende que a gestão financeira é fundamental, por isso somos mais conservadores, não arriscando, não fazendo investidas “loucas”.

Nos últimos anos, a IBM transformou completamente seu modelo de negócio, desfazendo-se de várias atividades e ampliando os investimentos na prestação de serviços, que possuem um maior valor agregado. Essa “reinvenção” constante da IBM é uma característica da empresa ou uma imposição de mercado? Está ao alcance de qualquer organização empresarial?

Hoje, a reinvenção é uma característica da IBM. No início da década de 1990, a companhia passou por um processo complicado, pois não viu o movimento do mercado e quase quebrou, e isso nos ensinou uma grande lição: todo negócio em que você está, em algum momento, vai “commoditizar”. E daí a necessidade de se reinventar sempre. Essa capacidade de reinvenção tem que estar ao alcance de qualquer empresa, até porque é uma questão de sobrevivência. Se a empresa não fizer isso, ou vai ser adquirida ou vai quebrar, é uma questão de tempo.

O Brasil passa por um momento de valorização da inovação. Grandes instituições, como a CNI, por exemplo, defendem a inovação como a saída para que nosso país continue se desenvolvendo. A seu ver, a inovação pode, de fato, impulsionar o desenvolvimento brasileiro? Qual o papel da educação neste sentido?

Acredito 200% nisso. Sem inovação, não existe progresso. Mesmo em momentos de crise, como o momento da bolha da internet, a IBM nunca deixou de investir o que ela investe em pesquisa e desenvolvimento. Ela acredita que o futuro dela está aí, na criação e na inovação, mesmo nos tempos ruins. Inovação é, realmente, uma questão de sobrevivência. A tecnologia pode ser uma arma muito forte para mudar o sistema de educação brasileira. Precisamos estimular, dentro do sistema de educação, a inovação e a criação. Hoje isso acontece mais nas empresas que nas escolas.

Vivemos uma mudança de paradigmas, passando de um modo de vida estático para o móvel, graças, principalmente, à tecnologia. O que você, enquanto profissional da área, pensa sobre isso?

A tecnologia quebrou a barreira entre vida pessoal e vida profissional. Hoje todos estão conectados o tempo todo. Eu eventualmente tenho uma reunião por telefone ou vejo meus e-mails no sábado e no domingo, enquanto na sexta-feira vou a uma reunião na escola do meu filho. Antes, falávamos muito do conceito de balanço entre vida pessoal e vida profissional, que o americano chama de “work-life balance”. Esse conceito já morreu e o que está valendo hoje é o “work-life integration”, porque as coisas estão se integrando. Hoje você faz coisas pessoais durante o horário de trabalho que você não fazia e você trabalha durante os horários pessoais.

Qual é, para você, o futuro da tecnologia da informação? Por quê?

A tecnologia, de tempos em tempos, passa por algum fator disruptivo. A primeira disrupção foi a criação da tabulação; a segunda foi a programação, na década de 1950-60, quando apareceram os primeiros computadores, que foram criados pela IBM. Agora estamos passando por uma outra onda disruptiva, que é a computação cognitiva, mais conhecida como “inteligência artificial”. Vamos entrar na era dos computadores que aprendem e que tomam decisões baseados nos parâmetros que foram definidos. Atualmente, há projetos da IBM, nos Estados Unidos, em que um computador está ajudando a fazer diagnósticos de saúde. Mais da metade dos diagnósticos médicos são errados. Mas, se você utiliza a computação de alta capacidade para fazer isso, com um computador que consegue entender e manipular os dados, você ajuda a salvar vidas. Na nova era da tecnologia da informação, os computadores vão passar a aprender, e já estão aprendendo.

O Brasil foi o primeiro país no mundo a receber uma filial da IBM e hoje possui o segundo maior centro de prestação mundial de serviços da companhia. Quais são, hoje, as grandes oportunidades que a empresa enxerga no país?

São várias as oportunidades. A primeira é que as empresas brasileiras estão crescendo, procurando eficiência, e várias delas estão tentando, inclusive, ser globais. Temos tentado trabalhar junto com essas empresas para ajudá-las a serem eficientes, a nível global. A segunda grande oportunidade é o próprio país, que está passando por uma transformação grande. Nesse sentido, temos ajudado muito os governos, dos Estados, das cidades, e a própria União, a ter processos, sistemas e gestão mais eficientes. Além disso, existem ainda alguns nichos específicos de indústrias no mercado brasileiro que estão explodindo, principalmente toda a parte que é ligada ao crescimento da classe C de consumo, e também as ligadas aos recursos naturais, como o petróleo, que representam boas oportunidades.

E quais são os grandes desafios?

O maior desafio é a mão de obra qualificada. O crescimento do Brasil nos últimos anos criou um problema. Hoje faltam engenheiros e técnicos, e há muito trabalho sendo feito, pelo governo e por instituições, para poder correr atrás disso. Tivemos que importar muita gente qualificada para trabalhar aqui, porque está faltando. As profissões que a IBM mais tem dificuldade de encontrar profissionais no mercado brasileiro são todas as profissões ligadas à área técnica, e outras ligadas à área de processos.


Qual a situação da IBM, uma empresa global, frente ao cenário de incertezas na economia mundial? Como a crise impacta a empresa?

Se olharmos os resultados dos últimos cinco ou seis anos, veremos que a IBM, trimestre atrás de trimestre, registrou um crescimento no seu o lucro, tanto em relação ao trimestre anterior quanto ao ano seguinte. É claro que em momentos de crise global, quando a economia desaquece, a empresa sofre algum impacto. Porém, nossa forma de gestão é muito sólida e isso fez com que a IBM continuasse bem e saudável. Enquanto as empresas precisarem de ajuda, tiverem necessidade de eficiência e produtividade, e de criar diferencial competitivo, haverá negócio para nós.

Em 2012, pudemos perceber uma desaceleração no crescimento de diversos países, inclusive o Brasil, decorrente da crise mundial. Quais são suas expectativas para 2013, que já está tão próximo? Acredita que esse cenário se manterá?

Esse cenário não deve se manter para o Brasil. Acredito que 2013 será um ano muito melhor para o Brasil, já estou sentindo recuperação.

O que você, enquanto profissional, ainda ambiciona?

Eu não ambiciono nada do ponto de vista material, pois acredito que isso é conseqüência. Mas tenho muita vontade de um dia estar à frente de uma IBM em outro país, que esteja num momento especial de crescimento, de desenvolvimento, como a África, por exemplo. Acredito que a África é o próximo continente. Daqui a 20 anos vamos estar falando da África como se falou nos últimos dez anos da Ásia. Minha ambição é poder fazer alguma coisa agregando valor.

Como organiza sua agenda diária – separando tempo para as diferentes necessidades, tanto profissionais como pessoais?

Acima de qualquer coisa, dormindo pouco e produzindo muito. A gestão do próprio tempo é uma arte. Você tem que saber delegar, tem que saber escolher as pessoas certas para trabalhar com você. Também deve cuidar da sua saúde, porque se não fizer isso você rende menos. Trata-se de uma equação com muitas variáveis, e pouca gente tem talento de fazer todas elas bem. É o que eu procuro fazer.

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