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terça-feira, 23 abril, 2024

Dor da perda

Difícil de aceitar, mas inerente a todos, o luto deve ser encarado como uma fase transitória a ser superada

* Por Ivy Coutinho – Conteúdo da Revista Samp – Produzida pela Línea Publicações (Next Editorial)

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Uma discussão com o marido ou a esposa, um desentendimento com o amigo ou uma briga com o filho são problemas superáveis, pois estão sujeitos apenas à ação do tempo e à disponibilidade das pessoas envolvidas. Já em relação à morte, não há espera ou negociação. De maneira “aguardada” ou então brutal, ela traz consigo uma série de percalços para quem fica, para quem sente a dor da perda.

É devastadora a impossibilidade de conversar com o ente querido ou de tocá-lo, de ouvir sua voz, de saber sua opinião. Uma foto, uma música, um aroma ou um objeto bastam para despertar lembranças. Por ser algo natural, inerente à vida, como encarar o luto da melhor forma? Quais os cuidados com aqueles que estão precisando de ajuda nesse momento difícil?

Segundo a psicóloga Lorena Alves Santana Patricio, não existe receita para passar por essa etapa, que como qualquer outra precisa ser vivenciada. “É algo natural, sim, mas todos têm dificuldade de aceitar a perda. É importante demonstrar e compartilhar os sentimentos. Falar sobre a dor, sobre a falta que sente, e ir retomando a vida aos poucos é essencial. Mas o que acontece muito é que as pessoas tentam ser fortes, negando o sentimento e não se permitindo sofrer. Porém, o sofrimento é inevitável e devemos vivenciá-lo”, disse.

A especialista explica que ter uma rede de apoio formada por familiares e amigos é primordial. “É fundamental estar ao lado de pessoas queridas para trazer conforto e amparo, e envolver-se em atividades que proporcionem prazer – principalmente se o falecimento for de alguém muito próximo – ou em alguma ação que traga novo sentido para a vida. Outra coisa que vale destacar é que as pessoas precisam participar do ritual de morte, além de se apoiar em suas crenças religiosas. Isso permite que o indivíduo lide melhor com a realidade.”

O sofrimento prolongado e a demora em voltar às atividades do dia a dia são sinais de que é preciso procurar auxílio de um profissional. Na análise de Lorena, o ser humano não está preparado para esses baques. “Vivemos em uma sociedade que não nos prepara para passar por perdas. Não sabemos lidar com a morte. Algumas pessoas não conseguem retomar suas vidas, privando-se de contato social, não sentindo prazer em atividades que antes eram satisfatórias e diminuindo sua capacidade de trabalho. Outras podem apresentar sintomas físicos, como dificuldade de se alimentar, alterações no sono, aumento no nível de ansiedade ou doenças psicológicas como síndrome do pânico.

Para essas situações, é indicado um acompanhamento psicológico e até mesmo medicamentoso, neste último caso, claro, feito por um médico.
De acordo com a psicóloga, não existe um prazo para contornar o luto. Cada pessoa o vivencia de um jeito singular. “Ter vivido outros lutos ou ter um repertório comportamental de superação das adversidades influencia a maneira de o indivíduo vivenciar e passar por essa fase. É um período de sofrimento intenso. Geralmente, uma perda inesperada ou prematura é mais difícil de aceitar, mas quando se perde alguém que já apresentava um quadro de doença é menos complexo, pois de certo modo já se imaginava essa possibilidade, mas é doloroso de qualquer forma. O luto de perda de pessoas mais próximas, que tiveram uma função afetiva em nossas vidas, é mais sofrido.
Entretanto, cada indivíduo passa pelo momento de um jeito diferente.”

Ajuda on-line
Apesar de estarmos falando de uma condição pela qual todos um dia irão passar, há pouco espaço e informação para se abordar o assunto. E não são apenas os enlutados que sofrem. Quem quer ajudar se sente impotente, sem saber o que fazer nessas horas. Diante dessas situações, a publicitária e empreendedora social Mariane Maciel e seis amigas que já haviam passado pela dor se uniram
e criaram o blog “Vamos Falar Sobre o Luto?”.

“Quando perdemos alguém bem próximo, iniciamos uma das fases mais difíceis da vida e, como se não bastasse a dor da perda, ainda há o imenso silêncio ao redor do tema. Um dia eu e minhas amigas nos perguntamos: ‘Será que podemos fazer alguma coisa por amigos e desconhecidos que ainda passarão por isso?’. Foi aí que nasceu o ‘Vamos Falar Sobre o Luto?’, que é um projeto para a vida. Ele existe não porque temos um desejo de ‘falar de coisas ruins’, mas porque precisamos pensar com carinho e dar toda a atenção do mundo àqueles que estão vivendo uma das provas mais difíceis da vida”, contou.

O site é um espaço digital de informação, inspiração e conforto para quem perdeu alguém ou para quem deseja ajudar um amigo nessa etapa difi´cil. A página foi lançada no dia 12 de janeiro deste ano, após o desenvolvimento de um profundo estudo, no qual foram ouvidas histórias de quase 200 pessoas, além de psicólogos e médicos.

A fundadora do projeto explica, ainda, que não são realizados encontros in loco, mas na seção “Quem Pode Ajudar” são indicados grupos de apoio, comunidades on-line e terapeutas com especialização em luto para oferecer suporte presencial. Entrevistas com profissionais e relatos de pessoas comuns também estão na página e tiveram grande repercussão. “A história de como um pai lidou com a dor da perda de sua filha única, de 18 anos, foi lida por mais de 300 mil pessoas no site e foi republicada por jornais de todo o Brasil.”

A auxiliar de Enfermagem Thaís Portugal Soledade já enfrentou o baque do luto duas vezes. A primeira foi com o falecimento do irmão, aos 28 anos.  “Em 1999, quando eu tinha 13 anos, ele se foi por conta de um acidente de moto. Chorei muito e até hoje tenho saudades. Imagino como ele estaria aos 43 aqui conosco. Mas a vida segue em frente. Em 2009, veio a perda da minha irmã mais velha, que já havia nascido com uma patologia delicada. Quando ela estava com 25, ficou doente e foi hospitalizada. Ficou boa, mas teve uma recaída e partiu. Com essa perda, sim eu sofri muito. Porém, só chorei apos um ano de sua morte e até hoje eu choro de saudades dela. Não precisei de ajuda médica em nenhum dos dois momentos, pois me uni aos meus pais para enfrentarmos juntos”, relatou.

Matéria concedida a Revista Samp, edição 32, com produção editorial Línea Publicações (Next Editorial)
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