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quinta-feira, 28 março, 2024

Como será 2012? Conheça a opnião dos especialistas

Como será 2012? Conheça a opnião dos especialistasO Espírito Santo terá muitos desafios a enfrentar este ano com o desaquecimento da economia , que já dá sinais em várias atividades produtivas do País e também aqui. Ameaças econômicas, infraestrutura deficiente, redução do crédito e mudanças estruturais na produção industrial são alguns dos fatores apontados por analistas ouvidos pela ES Brasil .

O desdobramento mais recente da crise econômica internacional foi a insolvência, real ou potencial, de nações desenvolvidas. O grande volume da dívida governamental fez estourar a capacidade de endividamento de muitos países e causou o temor de que estes não pudessem honrar seus compromissos. Em nações como o Japão, a relação dívida versus PIB já ultrapassa os 200%. Nos Estados Unidos da América, a dívida extrapola US$ 15 trilhões. Aliado às recentes crises de insolvência na Grécia e em Portugal e ao temor de que a Espanha e a Itália também se vejam na mesma situação, o mercado financeiro sofreu um forte abalo.

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No Brasil, com a desaceleração da economia iniciada em 2011, o mercado começou o ano revendo as estimativas para o crescimento da economia. Analistas ouvidos pelo Banco Central na publicação semanal Focus reduziram de 3,4% para 3,3% as projeções para o crescimento do PIB em 2012. Eles também baixaram, pela sexta semana consecutiva, o crescimento previsto de 2011. O percentual passou de 2,9% para 2,87%.

No Espírito Santo, o Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo (Ideies) mantém a projeção inicial de 3,0% de crescimento para o PIB capixaba em 2012, mesmo índice estimado em 2011. Os números são bem inferiores aos alcançados em 2008 (7,8%) e em 2010 (13,8%), segundo o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). Os principais setores que contribuirão para o aumento do PIB capixaba são os de petróleo e gás, o de varejo e o da construção.

Indicadores da indústria mostram frenagem

Indicadores recentes divulgados sobre a indústria evidenciam a frenagem na produção. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já reduziu a projeção do crescimento industrial no Brasil para 1,8% em 2011 e 2,3% em 2012. Juros altos, taxa de câmbio, baixo nível de investimentos e grande volume das importações são os fatores negativos que dificultaram a competitividade da indústria nacional, na avaliação da CNI.

Os índices da produção capixaba também apontam queda. Em 2010, a produção industrial cresceu 22,31%. Em 2011, entre janeiro e outubro, a expansão foi de 7%, mas, de acordo com a Federação das Indústrias do ES (Findes), o índice deve cair para 5% no fechamento do ano. Em 2012, a projeção é de 4,5%.

Segundo o presidente da Findes, Marcos Guerra, em 2012 o cuidado deve ser maior por conta do cenário internacional. “Desde a crise de 2008, a indústria de transformação vem sofrendo muito e a questão é complicada, porque dependemos de como reagirão as economias da zona do euro e a dos Estados Unidos. Se a crise for agravada, poderemos sofrer mais pressão nas importações”, afirma. Até outubro, a produção do segmento de transformação caiu 5,1% . No de metalurgia básica, que engloba a siderurgia, a queda foi de 24,0%.

Já a indústria extrativa continua de vento em popa. Até outubro de 2011, registrou um crescimento de 30,6%. “No setor de petróleo e gás, a Petrobras deve aumentar sua produção em 2012, o que permitirá manter o crescimento das indústrias extrativas. No caso do minério de ferro (pelotas), os preços internacionais estão caindo, porém acredito que as empresas localizadas no Estado (Vale do Rio Doce e Samarco) devem, pelo menos, manter seus patamares de exportação em 2012”, ponderou Guerra.

Mas não só a crise prejudica o desempenho da indústria local. Setores como o moveleiro, têxtil, vestuário e calçadista sofrem concorrência direta da China. A indústria têxtil teve uma queda de 37,5% entre janeiro e outubro. Segundo o dirigente, as entidades nacionais estão se articulando com o governo federal para estabelecer novas regras para essas importações, de modo a que os preços brasileiros fiquem mais competitivos. “No Espírito Santo, temos ainda a concorrência de outros Estados, que possuem incentivos específicos e que estão desestruturando nossas empresas. Estamos conversando com o governo do Estado para tentar neutralizar esse desequilíbrio, bem como buscando alternativas para fortalecer e diversificar a indústria”, afirma.

Guerra não descarta a possibilidade de demissões para o ano de 2012. “Se não houver mudanças junto ao poder público, poderemos, sim, ter demissão, principalmente nos segmentos de alimentos e bebidas, vestuário, calçado e moveleiro. Mas estou otimista de que conseguiremos superar esse cenário e ainda alcançar um salto positivo na indústria capixaba”, conclui.

Comércio prevê crescimento de 7% no ES
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio) prevê que as vendas no comércio varejista no Brasil crescerão 5% em 2012, chegando a R$ 1,2 trilhão, o que aponta uma desaceleração em relação a 2011 (10,9%) e a 2010 (6,5%). A redução de juros a partir da segunda metade do ano, o baixo nível de desemprego e o forte reajuste do salário mínimo devem manter as vendas ainda aquecidas, avalia a entidade.

No Espírito Santo, segundo o presidente da Fecomércio-ES, José Lino Sepulcri, apesar da percepção em relação à crise na Europa ter sido afetada, a manutenção do mercado de trabalho, o crescimento da massa real de salários e o desenvolvimento da economia capixaba são fatores que ainda se sobrepõem à crise. Para 2012, a Fecomércio-ES estima uma expansão de até 7%, a mesma projetada para 2011. “A retirada das medidas restritivas, aliada ao desaperto monetário iniciado em agosto de 2011, tendem a se refletir positivamente sobre as vendas a partir do segundo semestre de 2012”, avalia Sepulcri.

Desafios a serem enfrentados no Estado

Sob a ótica de alguns economistas capixabas, o Espírito Santo terá muitos desafios pela frente em 2012, principalmente por conta da conjuntura internacional. “O Estado, que vem crescendo acima da média nacional por mais de uma década, terá desafios a enfrentar em áreas cruciais como infraestrutura, cadeias produtivas, capacitação de pessoal, implantação de novos projetos de base tecnológica avançada, desenvolvimento regional planejado e descentralizado e melhorias na área social e no meio ambiente”, explica o professor de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Alexandre Salles.

Um dos grandes é tentar diluir o peso das commodities (minério, aço, celulose e mais recentemente, petróleo e gás) na economia capixaba, mesmo sendo estas uma das principais alavancas do desenvolvimento do Estado. “A economia capixaba é, ainda, muito dependente dos mercados externos e pouco diversificada em sua base produtiva. O Espírito Santo deve ampliar suas fatias do mercado interno, local e nacional, com produtos de uso final. Um setor de potencial crescimento é o turismo, que pode ocorrer o ano todo aqui”, afirma a economista Ângela Morandi.

Por ser o mais “globalizado” do país, com um grau de abertura externa de 49,0%, contra 21,1% do resto do Brasil, o Estado reduz o seu nível de atividade econômica com a redução global. “Em 2012, a situação é incerta quanto aos preços das commodities. As agrícolas devem sofrer quedas em torno de 10% e as metálicas (minério de ferro, aço e outros), algo próximo de 15%, provocando um impacto nas exportações. Mas a queda dos preços das commodities será tão intensa quanto for o tamanho da crise externa e a consequente redução do fluxo cambial”, diz o economista e consultor da Vieira & Rosemberg, Clóvis Vieira.

O professor de Economia da Ufes, Arlindo Villaschi, analisa que o momento deve servir para o Estado tomar uma posição mais vigorosa para decidir que tipo de economia quer construir para o futuro. “Ou continuamos ancorando nossas perspectivas de crescimento na exportação de commodities ou nos aproveitamos delas para construir plataformas para uma economia mais diversificada, baseada no conhecimento e no aprendizado. Só assim a crise esperada nos conduzirá a uma busca proativa de oportunidades”, reflete.

O agravamento da crise na zona do euro também pode representar dificuldades para a oferta de crédito no Brasil. “A crise reduziu a capacidade dos bancos americanos e europeus de retomar o patamar de financiamento que tinham anteriormente. Se os problemas da Europa não forem sanados, deve-se esperar pouco em termos de financiamento internacional dos bancos da região, principalmente os da Alemanha, França e Inglaterra”, analisa o economista Alexandre Salles. “O sistema capitalista precisa de crédito para manter a dinâmica produtiva, principalmente o setor industrial. Se ficar restrito, há uma redução nos investimentos e, com isso, queda no nível de emprego. No Espírito Santo, a redução do crédito e a valorização do real tendem a prejudicar os setores exportadores, na medida em que isso encarece o preço em dólar de nossos produtos exportados”, afirma ele.

Mas o economista Clóvis Vieira diz que o governo federal tem adotado medidas que servem para manter os níveis de produção do país, como a expansão do crédito nos bancos públicos, queda nos juros, redução dos depósitos compulsórios para favorecer os bancos pequenos e médios e ações na área fiscal para aumentar o consumo doméstico. “Como última alternativa, o Governo pode lançar mão de suas reservas internacionais, em torno de R$ 350 bilhões, e aumentar a oferta de crédito no BNDES, Banco do Brasil e Caixa. Mas a maior seletividade dos bancos na concessão de crédito, conjugada com a alta inadimplência, repercutirá na desaceleração do consumo de bens de valor mais elevado”, enfatiza.

Além da crise, o Estado corre o risco de perder receitas oriundas dos royalties do petróleo e do Fundap, que pode ser extinto. As duas ameaças podem trazer um prejuízo de R$ 2,8 bilhões em um ano. Esse será o foco das negociações do Governo do Estado em Brasília em 2012. “Se ocorrer, haverá sérias consequências fiscais na arrecadação tributária e na área econômica, com impactos sobre o PIB estadual e nos postos de emprego. Se o Espírito Santo quiser atuar como um forte centro de negócios, terá de construir visões e ações articuladas na busca de seus interesses”, avalia Clovis Vieira. Opinião compartilhada por Arlindo Villaschi, que afirma que o Estado tem que avaliar quais mercadorias perderão capacidade de importação pelos portos capixabas sem o Fundap, que vantagens têm os portos por onde elas passarão a entrar e as despesas realizadas com as receitas dos royalties e do Fundap, para, então, conduzir o processo reivindicatório e outras medidas compensatórias junto ao governo federal.

Investimentos podem amenizar impactos da crise

“A economia capixaba hoje é potencialmente mais forte do que em 2008, com um mercado interno muito mais sólido e uma invejável carteira de investimentos públicos e privados. Se não houver atrasos nos investimentos públicos anunciados pelo Governo do Estado para a infraestrutura e as obras constantes do PAC, o Estado pode amenizar os impactos negativos da crise. Apenas no caso de um aprofundamento da crise mundial é que o ES poderá ser fortemente impactado nos primeiros meses do ano”, analisa Clovis Vieira. Até 2015, de acordo com o Instituto Jones dos Santos Neves, o Estado receberá R$ 98,8 bilhões em investimentos, distribuídos em 1.129 projetos.

Entretanto, há relevantes gargalos de infraestrutura a serem superados, como a ampliação do aeroporto, mais ligações ferroviárias, portos mais bem estruturados e melhores estradas. “O Estado deve melhorar urgentemente a sua infraestrutura logística”, diz Clovis Vieira. Mesmo assim, o Espírito Santo, ao lado do Rio de Janeiro, Goiás, Pernambuco e Bahia, está entre os estados mais procurados por investidores do país.

Para o professor Arlindo Villaschi, a proximidade com os grandes centros urbanos e a demanda interna por grandes investimentos, principalmente do petróleo e do gás, se sobrepõem às deficiências de infraestrutura. “A questão dos gargalos na infraestrutura é um problema nacional, mas para atrair investimentos além daqueles que a força do mercado já traz para cá, o Espírito Santo deve definir claramente que tipo de investimentos quer induzir, mobilizando as grandes empresas que operam no Estado e que têm grande visibilidade no país e no exterior. Por outro lado, as questões de logística poderiam ser superadas, ainda que parcialmente, se instalações portuárias e a malha ferroviária fossem mais e melhor utilizadas, para além dos produtos específicos de seus operadores”, conclui.

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