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sexta-feira, 29 março, 2024

Capixabas mandando bem

As empresas locais conseguem preencher seus cargos de gestão com profissionais formados no Espírito Santo? Saiba o que especialistas respondem

Quando se trata de profissionais de gestão, as empresas do Espírito Santo estão bem assistidas em suas demandas, conseguindo preencher seus staffs com mão de obra local. De modo geral, essa é a conclusão de diversos especialistas da área. “Através de um contato contínuo com companhias e profissionais, as instituições de ensino do Estado passaram a ficar atentas às necessidades do mercado, buscando se adequar para atender organizações dos mais diversos segmentos, de acordo com suas carências”, pontua o consultor e presidente do Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico (CDMEC), Durval Vieira de Freitas.
Embora não sirva de parâmetro para analisar a qualidade da mão de obra formada do meio acadêmico, o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) ajuda a compreender a situação relatada pelo dirigente. Na última avaliação à qual o curso de Administração foi submetido, por exemplo, 40% das unidades educacionais capixabas participantes obtiveram conceitos nas duas faixas mais altas (4 e 5), sendo que Faesa, UVV, Multivix e Fucape alcançaram o nível 5.
Focada no segmento de negócios, a Fucape também se destaca entre as 10 melhores do país no ranking do Índice Geral de Cursos (IGC), do Ministério da Educação (MEC). De acordo com o especialista em Liderança e Desenvolvimento Humano da fundação, Bruno Félix, “a formação dos profissionais está melhor do que há alguns anos”, o que tem colocado o Espírito Santo em posição privilegiada nesse campo.

Empresas se preocupam mais com a gestão

Nas últimas décadas, principalmente a partir da abertura da economia e da criação do Plano Real nos anos 1990, que resultaram na estabilização da moeda e no fim da hiperinflação, a atividade de gestão foi recebendo mais atenção por parte das empresas.
“O próprio curso de Administração, que antes possuía a imagem errônea de que era relegado a quem não sabia o que fazer, experimentou um crescimento substancial, além de passar a ser oferecido com ênfase em áreas como marketing, finanças ou recursos humanos”, analisa Vinícius Ribeiro de Freitas, associado da Fundação Dom Cabral no Espírito Santo.
Conforme informações disponibilizadas pelo Conselho Regional de Administração do Estado (CRA-ES), existem no país mais de 1,5 milhão de profissionais formados nesse curso. “Houve uma mudança completa na percepção do mercado em ter uma capacitação em gestão de forma estruturada, em vez do aprendizado que vinha apenas do cotidiano.
A mentalidade do empresariado e dos gestores de modo geral foi evoluindo, com uma busca por cursos de nível gerencial e formação em gestão empresarial, desde cursos de pós-graduação, especialização, MBA ou abertos”, acrescenta Freitas.

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Intercâmbio de gestores

Os postos de gestão nas empresas locais estão sendo ocupados, em sua maioria, por profissionais capixabas ou que aqui fixaram residência. O quadro de gestores da ArcelorMittal Tubarão, por exemplo, é composto por 55% de pessoas do Estado, sendo que dos demais 45%, pelo menos 38% vêm de outras partes do Sudeste. “Essa é uma discussão que vai sempre existir. Porém, vejo que o mercado está muito melhor assistido, com profissionais formados aqui no Estado, que são muito antenados e preocupados em se desenvolver, pelo menos em nível gerencial. Uma coisa muito comum é que alguns processos das empresas locais podem requerer colaboradores com experiência de fora. Por isso, o caminho natural é buscar esse funcionário em outros mercados e disseminar o conhecimento que ele possui dentro da empresa”, pondera Vinícius Freitas.
Já na EDP no Espírito Santo, 95% dos cargos de liderança são preenchidos por capixabas, mas há obstáculos no processo de contratação, especialmente por competências técnicas. “Como nosso negócio é muito específico e o concorrente mais próximo tem um sistema de distribuição diferente e menor que o nosso, existe essa dificuldade. No entanto, temos um ambiente de desenvolvimento e, portanto, um alto índice de aproveitamento interno.
Quando há necessidade de contratação externa, temos esse desafio, e nos últimos casos tivemos que recorrer a outros estados”, salienta a diretora de Gestão de Pessoas da EDP Brasil, Fernanda Pires.
Para Félix, a absorção de mão de obra proveniente de outras regiões é saudável, assim como a ida de capixabas para outros estados – inclusive mediante programas de mobilidade executados por empresas como ArcelorMittal e Vale. “O Espírito Santo está muito próximo de grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Então é natural que os cursos de MBA e mestrado daqui recebam muitos alunos de fora. Temos uma característica tanto importadora quanto exportadora de talentos.”

Talento capixaba na gestão da Natura

Assumir uma posição de liderança dentro de uma organização de alcance global não estava necessariamente nos planos de Thaís Paoliello, mas acabou se tornando uma realidade em virtude dos rumos que sua vida profissional tomou. Após concluir a graduação em Jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em 2009, o caminho natural seria o de atuar em redações ou empresas de assessoria de imprensa, em Vitória. Porém, seu destino foi outro depois de sua aprovação no programa de trainee da Natura, em 2011. Hoje, após cinco anos e muito investimento para incrementar o currículo, ela é gerente de branding da indústria de cosméticos, sendo responsável pela estratégia e pela conceituação da marca.

Assumir funções de comando começou a ser realidade na vida de Thais desde o ambiente acadêmico, quando se tornou diretora nacional de Marketing e Comunicação da Aiesec, organização sem fins lucrativos que possibilita intercâmbios profissionais e voluntários para desenvolver a liderança em jovens de todo o mundo. “Durante a faculdade, experimentei diversas oportunidades na área da comunicação estratégica e, aos poucos, fui aprendendo sobre o marketing, conhecendo áreas afins e me interessando por coisas novas. A mudança acabou acontecendo de forma natural ao longo da minha jornada, e hoje trabalho com planejamento estratégico da marca Natura e com a conceituação de marcas e produtos”, detalha.
Para atuar na área de gestão, a profissional fez diversos cursos em inovação, marketing e comunicação, além de uma especialização em Gestão de Comunicação e Marketing na USP. “O programa de trainee foi uma porta de entrada para mim na Natura e um período de muito aprendizado. Foram dois anos de programa, em que as mais diversas competências foram desenvolvidas – emocional, funcional e até mesmo espiritual. Atualmente, participo de outros dois programas, um de desenvolvimento de liderança e outro funcional de marca e marketing”, completa.

Formação de líderes

De acordo com a pesquisa “Planejamento de Sucessão no Brasil”, realizada com 112 empresas, 61% delas declararam que não têm políticas claras de retenção dos funcionários com alto potencial para suceder as principais lideranças. “Este é um dos assuntos que estão entre os mais discutidos entre as empresas, a formação de lideranças para um trabalho de sucessão. Estou cada vez mais convicto de que a melhor opção nesse sentido é aquela que vem ‘de casa’. É você pegar as pessoas que já têm a cultura e o DNA de sua empresa e formá-las, através de um processo de liderança ligado aos valores da organização.
São ferramentas, métodos, pesquisas e dados que mostram o que é um processo esquematizado, mediante um investimento constante em capacitação”, afirma Vinícius Ribeiro de Freitas, da Fundação Dom Cabral.
É o caso da EDP Escelsa, que investe na formação de líderes com o desenvolvimento de iniciativas como incentivo ao curso técnico, à graduação e à pós-graduação, além de capacitação técnica e funcional, coaching, mentoring e iniciativas vivenciais. “Internamente, formamos eletricistas para atuar em nossa rede de distribuição de energia, com um programa de formação denominado Escola de Eletricistas. Temos profissionais que cresceram na empresa e, hoje, ocupam cargos de liderança na EDP Escelsa, em sua maioria no Espírito Santo. Incentivamos a mobilidade, mas buscamos alinhar às expectativas das pessoas porque algumas preferem não sair do Estado”, diz.

Plano de Sucessão

Já a ArcelorMittal Tubarão adota a prática do Plano de Sucessão, identificando aqueles que possuem o potencial de liderança a ser desenvolvido no decorrer de suas carreiras para assumir esses cargos de comando. Trata-se ainda de uma forma de valorizar a equipe, tendo a vantagem de aproveitar perfis que já possuem o conhecimento das práticas, dos valores e da cultura da siderúrgica.
“A empresa tem como objetivo oferecer conhecimento técnico sobre os processos siderúrgicos, permeando toda a cadeia de negócio e o impacto do trabalho de cada um no resultado. Também temos como metas manter o desenvolvimento da companhia, a partir da capacitação permanente dos empregados, e atender à crescente demanda de conhecimento da organização, apontado nas ações de desenvolvimento de cada área”, garante o gerente-geral de RH da ArcelorMittal Tubarão, Carlos Renato Santos Penha.
De acordo com ele, os resultados do Plano de Sucessão podem ser sentidos com o espaço que funcionários do Espírito Santo vêm adquirindo dentro da empresa. “Temos registros de empregados capixaba que exercem cargos de liderança em nossas unidades sediadas em outros países, como Chile, Luxemburgo e Estado Unidos”, conclui.

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