29.4 C
Vitória
sexta-feira, 29 março, 2024

Bons ventos que levam ao mar

Mercado de produtos e serviços ligados ao setor náutico no Espírito Santo tem boas expectativas

 * Por Luciene Araújo

- Continua após a publicidade -

“Navegar é preciso; viver não é preciso.” A tradicional frase dos antigos marujos traduz o sentimento dos apaixonados pelo mundo náutico ao redor do planeta. Uma paixão que tem conquistado cada vez mais o coração dos capixabas, mesmo em meio ao mar revolto da economia brasileira. Ainda que não haja estatísticas oficiais, basta analisar a demanda não atendida de vagas no Iate Clube para novos barcos e confirmar a tendência que os empresários já perceberam: o interesse pelo mercado no Espírito Santo se mostra crescente.  

No Estado, onde há forte tradição em esportes como surfe e stand up paddle e significativo número de condutores de jet skys, os consumidores de embarcações de passeio estão em alta. E dessa percepção, uma série de investimentos surge na capital capixaba a fim de contemplar esse seleto público, que ganhou recentemente um “parque de diversões”. Com 600 metros quadrados, a Living Náutica, além de jet skys, pranchas, roupas UV, óculos e todo tipo de equipamento, é representante das lanchas Phoenix, veículos entre 27 e 36 pés, com capacidade para até 13 pessoas e custo variado de R$ 26 mil a R$ 90 mil.

“Percebemos um upgrade no mercado. Por isso trouxemos essa oportunidade de barcos com a Phoenix, para o Espírito Santo. Nossa proposta é oferecer uma linha de barcos menores, com custo-benefício interessante. As lanchas são customizadas: podemos variar casco, tecido, acabamento de volante, inclusive motor”, explica Wilson Caoduro, proprietário da Living. “Outra vantagem é que a Phoenix proporciona o melhor deque na maior piscina do mundo”, brinca o empresário para explicar que as versões de passeio da marca possuem as maiores popa e proa do Brasil na categoria.

Bons ventos que levam ao mar
O empresário adianta a meta até 2018. “A Phoenix de Alagoas, maior estaleiro em unidades vendidas do Brasil, comercializa hoje 300 barcos por mês, que seguem para todo o Brasil. Nossa expectativa aqui no Espírito Santo é vender cerca de 100 barcos em dois anos”, conta. Há mais de três décadas, a Phoenix Boats fabrica embarcações de esporte e lazer, em Maceió (AL). “Com processos eficientes de gestão, linhas de montagem em escala, domínio de todas as etapas produtivas, uso da mais alta tecnologia e ampla rede de concessionários, o Grupo Estaleiro Phoenix consegue oferecer ao consumidor brasileiro o que existe de referência internacional, com preços e condições diferenciados – as mesmas lanchas vendidas no Brasil são exportadas para a Europa, um dos mercados mais exigentes quanto à segurança e à garantia”, aponta o diretor do estaleiro alagoano, Edward Jucá de Moraes.
 
Brasil

Criada em 2007, em Itajaí (SC), a Itech Boating se consolida como um dos principais empreendimentos do segmento no país. Em um espaço de 20 mil m², com capacidade para produção de barcos de até 50 pés, são fabricados iates de luxo, lanchas esportivas e embarcações de uso profissional. O estaleiro, detentor dos direitos de representação no Brasil das marcas Sessa Marine, Key Largo e Intech Professional Boats (própria), fornece embarcações que variam entre R$ 1,5 milhão e R$ 3 milhões. Hoje são mais de 150 unidades navegando em mares brasileiros.

“Dos nove anos que estamos no mercado, nos sete primeiros registramos um crescimento entre 20% e 25%; enquanto que em 2015 e 2016, já tivemos uma queda de 20% nos pedidos”, relata o presidente da Itech, José Antônio Galizio Neto. A companhia entregou 39 unidades em 2014, 28 em 2015; e este ano estima comercializar 25. A situação político-econômica trouxe muitas perdas. “Hoje, grande parte de nosso público consumidor, mesmo ainda tendo recursos disponíveis para comprar uma embarcação, teme a insegurança do cenário e prefere ser mais cautelosa em relação aos gastos. Isso exigiu uma reorganização do segmento, e estaleiros mais bem estruturados, tanto física quanto financeiramente, têm se voltado para a exportação. Há novos mercados conquistados na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália”, explica o empresário, ao defender que o Brasil tem tudo para se transformar em um polo exportador. “Mas esperamos que a economia do país se reorganize e possamos retomar os percentuais de crescimento interno que temos como potencial”, alegou.  
 
Bons ventos que levam ao marMas, mesmo diante do significativo impacto negativo das “tormentas política e econômica”, a expectativa para os próximos anos é positiva. Isso porque a área se profissionalizou ainda mais nos últimos cinco anos, recebendo bastante investimento, e a vinda de fábricas estrangeiras para o Brasil ajudou na melhoria da qualidade tanto da engenharia quanto da finalização dos produtos. Segundo o último estudo realizado, em 2012, pela Associação Brasileira de Construtores de Barcos e Seus Implementos (Acobar), entre 2005 e 2012, o mercado náutico brasileiro apresentou as maiores taxas de avanço em todo o mundo. Hoje não há números oficiais, mas a Marinha do Brasil registra uma média de 3.500 novas embarcações por ano, incluindo unidades de lazer e trabalho.  

José Antônio defende a importância do setor para a economia nacional. Ele sinaliza que cada barco, independentemente de seu tamanho, durante seu processo de produção, gera em média sete empregos diretos e, aproximadamente, 15 indiretos. Após sair do estaleiro, abre outras sete vagas diretas e mais de 30 indiretas – para profissionais que fazem manutenção de motor, de hidráulica, de sistema elétrico, de estrutura, a marina. “Apesar de ser tratado hoje no Brasil como produto de luxo, o barco tem o poder impressionante de distribuir renda. Eu tiro R$ 1 milhão de uma pessoa que tem condição financeira diferenciada, que trabalhou e agora usufrui de seu direito de se divertir, e distribuo para uma cadeia enorme, e rapidamente”, afirma.  

A tendência para exportação e a expectativa de crescimento do mercado podem ser confirmadas nas decisões estratégicas. O estaleiro Azimut, que faturou globalmente 650 milhões de euros em 2014, ligou o radar para a alta do dólar. Com design italiano, tecnologia de navegação norte-americana, mas montagem 100% nacional, desde o ano passado, todas as embarcações de 42 pés vendidas no mundo, avaliadas em R$ 2,5 milhões cada, passaram ser fabricadas no Brasil, também em Itajaí (SC), e enviadas para os mais de 85 mercados onde a companhia italiana atua.

Agora em maio, foi anunciado o aumento do capital social em R$ 63,6 milhões. Além disso, um valor de mais de R$ 400 milhões será investido até 2017, aporte que inclui a expansão da planta industrial no Sul, com ampliação do portfólio de iates e nos mercados interno e externo.  “Esses números demonstram a confiança no projeto brasileiro e a força de um grupo mundial com mais de 45 anos de história e excelência náutica. Isso resulta em segurança aos nossos clientes ao adquirirem um produto de alto padrão de uma marca mundialmente consagrada, a Azimut Yachts”, destaca o CEO da Azimut do Brasil Davide Breviglieri.

A escolha do Brasil para ser a sede do segundo estaleiro da organização no mundo, em 2010,  foi consequência de o país ser, à época, o vice-líder no mercado da Azimut, atrás apenas dos Estados Unidos. Além disso, como o barco é produzido artesanalmente, a linha de operação chinesa, apesar de ser mais barata, nem sequer foi cogitada, porque o mercado de luxo brasileiro é mais sofisticado. O Sul abriga ainda o maior estaleiro, voltado à classe A, 100% nacional. A Schaefer Yachts, desde sua implantação, em 1992, já construiu mais de 2,6 mil barcos, que variam de 26 a 80 pés, este último feito sob medida para clientes como o apresentador Luciano Huck, no valor de R$ 12 milhões.
   Bons ventos que levam ao mar
Em 2015, para comemorar os cinco anos da empresa no Brasil, foi lançado o maior iate já produzido no país, com 93 pés. O superbarco, tríplex, com living de dois ambientes, um deles externo e sala de jantar com mesa para oito pessoas, conta com quatro suítes, sendo a máster com banheira de hidromassagem. O valor? Algo na casa dos R$ 20 milhões.

Empreendedorismo

A certeza na expansão do mercado é tamanha, que o empresário Wilson Caoduro, além de comandar a Living Náutica em terras capixabas, ainda este ano inaugura outra concessionária da marca Phoenix, nos mesmos moldes da de Vitória, em Angra dos Reis (RJ). Na capital capixaba, a empresa está ainda estruturando uma marina lounge no Canal de Jardim da Penha, com capacidade inicial para 200 jet skys, que serão alugados por R$ 400 a hora. O local, previsto para estar pronto em abril de 2017, terá infraestrutura similar a de alguns lugares no Sul do país, com bar e outra loja de equipamentos, acessórios e roupas próprias para atividades de lazer e esportivas. “A ideia é aproveitar a vista linda do canal e estruturar um lugar aconchegante para passar o dia com a família e os amigos, presenciar um pôr do sol com música ambiente, e se divertir com segurança. Tudo isso contando com profissionais especializados para garantir a manutenção ideal dos jets”, adianta Wilson.

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Matérias relacionadas

Continua após a publicidade

EDIÇÃO DIGITAL

Edição 220

RÁDIO ES BRASIL

Continua após publicidade

Vida Capixaba

- Continua após a publicidade -

Política e ECONOMIA