Uma dose diária faz muito bem à saúde
Quem de nós nunca ouviu a famosa frase: rir é o melhor remédio? Mas será que esse jargão tem mesmo fundamento científico? Acredite: descontando aqueles momentos em que chorar é mesmo preciso, a flexibilidade para encarar as situações ruins garante muito mais que boas risadas: o bom humor na sua rotina representa uma dose diária de saúde.
Ele depende de uma série de fatores e influências e varia de acordo com a personalidade e a formação da pessoa. “Humor é um estado psicológico/emocional do indivíduo. E quando o bom humor é aliado à congruência, que é um processo de aceitação de si mesmo e simultaneamente aceitando o outro, temos uma pessoa verdadeiramente bem-humorada, melhor consigo mesma. Um dos pontos que se trabalha em terapia é exatamente esse sutil equilíbrio entre essas aceitações, que além de trazer bom humor traz bem-estar biopsicossocial”, esclarece o psicólogo Allyson Passos Lima.
Mas, ainda que seja impactado por esse mosaico de ingredientes, o bom humor pode ser estimulado por uma visão otimista do mundo. “Com mudança de comportamento e pensamento sobre obstáculos na vida pessoal, várias características se sobressaem, como bom humor e autoestima. Especificamente com o desenvolvimento de bom humor, conseguem-se melhorias nos relacionamentos sociais e autoconfiança (‘eu posso, eu consigo’)”, acrescenta.
Desde a década de 1970, muitos estudos sobre a influência do humor na saúde têm sido feitos. Mas essa condição de ânimo, especialmente ligada ao riso, como ferramenta terapêutica ainda pode ser considerada parte de uma ciência nova. Fato é que essa capacidade de fazer bem às pessoas tem sido levada cada vez mais a sério pela comunidade científica. “Os benefícios do bom humor à saúde realmente vêm se constituindo fonte de estudos e pesquisas no meio médico-científico, e essa relação tem se consolidado”, garante o clínico-geral Silas Marques.
A explicação fisiológica para os benefícios está no fato de indivíduos bem-humorados apresentarem maior produção de substâncias do corpo relacionadas ao prazer e ao bem-estar, as chamadas endorfinas. “Uma glândula situada no cérebro, a hipófise, produz esses hormônios quando estamos praticando atividades que gostamos, por exemplo, fazendo esportes, ouvindo uma música, lendo um livro ou interagindo com pessoas que prezamos. Dessa maneira, a sensação de bem-estar, relaxamento e prazer é perceptível, de modo que pode haver liberação de maior quantidade de endorfinas, iniciando dessa maneira um ‘círculo virtuoso’, no qual uma sequência de eventos positivos é esperada”, detalha o médico.
Já o indivíduo mal-humorado provoca reações muito ruins no próprio corpo. “Ao estarmos mal-humorados, estressados e ansiosos, liberamos substâncias como adrenalina, que em excesso no organismo pode gerar irritabilidade, palpitações, dor de cabeça, dificuldades na digestão, sensação de mal-estar geral, entre outras reações”, aponta Marques. Além disso, vale destacar que a pessoa, justamente por não estar bem, acaba maltratando quem está à sua volta, piorando ainda mais seu humor.
Allyson Passos explica que é preciso respeitar os diferentes momentos. “Se a pessoa está triste, não há problema algum em chorar; o contrário também é aceito! Permitir-se expor seus sentimentos é o melhor remédio.” O psicólogo também alerta sobre estar atento à ironia ou ao sarcasmo “travestido” de bom humor. “Todo e qualquer humor não aliado ao sentimento provoca malefícios: isolamento social, embotamento afetivo (dificuldades de expressar emoções e sentimentos), depressão ou outras psicopatologias”, aponta.
Mas atenção: se o mau humor é excessivo, não abra mão de buscar ajuda profissional. Um mal-humorado bem resolvido pode “adquirir” ou reconquistar o bom humor e assim ganhar uma nova vida. “É necessário acompanhamento psicológico, por vezes aliado ao psiquiátrico, para regularização de humor. Lembrando que o acompanhamento com a família é de suma importância. Como psicólogo, devo crer em processos de mudança psicológica mesmo que o indivíduo tenha dificuldades. Toda e qualquer transformação é possível, mas parte a priori do envolvimento do paciente em querer isso. O importante é procurar ajuda. E estarei à disposição sempre que precisar”, destaca Allyson Passos.
Bom humor e a cura
Muitas têm sido também as experiências que demonstram a força do bom humor no processo de cura de diferentes doenças. Correntes defendem que o estresse, a baixa imunidade e algumas doenças como câncer estão associados ao desânimo, à tristeza e a sentimentos negativos (raiva e ódio) reprimidos no indivíduo.
“Há cinco anos tenho contato quase que diariamente com pessoas doentes em unidades de saúde da família, UPAs, clínicas e hospitais de pequeno e grande porte. Ao atuar nesses diversos setores de atenção à saúde, pude observar que os bem-humorados, definitivamente, lidam de forma muito mais positiva com o processo de doença com a qual estão convivendo. Dessa maneira, os desfechos e resultados tendem a ser mais satisfatórios e, por vezes, surpreendentes. Isso pode ser claramente notado na melhora da relação médico-paciente, no relacionamento entre os pacientes internados. A forma com que lidam e convivem com esse processo de doença costuma ser menos dolorosa e estressante e, na medida do possível, deixa o cotidiano do paciente mais fácil”, conta Silas Marques.
O profissional destaca ainda que são reais as transformações de quadro clínico a partir da mudança de comportamento negativista para positivista. “Tive a oportunidade de acompanhar alguns pacientes desde a investigação da doença até o diagnóstico e o tratamento. Nesse período, observei em alguns casos que, no início, pacientes que a encaravam de forma negativista e pessimista, mas que, ao longo do acompanhamento, tiveram uma mudança em seu comportamento e na forma que encarariam sua doença, obtiveram benefícios importantes. Posso citar por exemplo pessoas com diagnóstico de diabetes, doença que exige grande mudança de hábitos de vida e que, ao ser encarada de maneira positiva e responsável, consegue-se o controle com resultado do tratamento excelente”, garante.
Por fim, o doutor Silas deixa uma importante receita. “Já estão bem claros os malefícios do mau humor à saúde. Nem sempre uma pessoa séria é mal-humorada, pode fazer parte de sua personalidade. Entretanto, quando o estado de mau humor causa sofrimento, tristeza, ansiedade, quando afasta familiares e amigos e dificulta relações interpessoais, pode fazer parte de um conjunto de sintomas de doenças classificadas como distúrbios do humor, como a depressão e transtornos de ansiedade, entre outros. Se você se identificou, é muito provável que precise de ajuda. Seria interessante uma consulta com um profissional, clínico, psiquiatra ou psicólogo, para uma avaliação adequada da necessidade de tratamento. No mais, vamos procurar viver a vida com mais bom humor e mais sorrisos.”
Bom humor, minha profissão
O humorista Rossini Macedo, que entre seus personagens faz o famoso Tonho dos Couros, conta o que o bom humor sempre representou em sua vida. “O bom humor salvou minha vida. Meu pai era alcoólatra, nós vivíamos em um ambiente de violência e sofrimento. Toda a cidade de Piauí (interior da Paraíba) conhecia nossa história. Então passei a superar meus problemas fazendo piada das diferentes situações, rindo pra vida”.
Macedo acredita que as empresas têm entendido cada vez mais os impactos positivos nas pessoas e, por consequência, na produtividade. “Meu trabalho hoje é muito ligado a levar inspiração às pessoas. A gente faz muito atendimento na área de vendas, em que a pessoa precisa estar o tempo todo bem-humorada, a fim de dar uma boa energia para quem vai receber aquela proposta. Fazemos palestras motivacionais para profissionais no Brasil inteiro, mostrando o quanto é importante para o dia a dia essa atitude positiva, de acreditar no que se faz, em crescimento, em chegar lá.”
Hoje 80% do faturamento do humorista é proveniente de eventos corporativos. “É comum as pessoas após as palestras ou shows virem falar com a gente, gravar depoimento, postarem nas redes sociais o quanto que aquilo mudou a vida dela, melhorou a postura. Como dizia o mestre Chico Anysio, somos médicos do espírito e isso realmente me deixa muito feliz em transformar a vida das pessoas.”
Ao lado dos humoristas Fabio Flores, Haeckel Ferreira e Tiodiu Costa, ele desenvolve o projeto Caminhão do Riso, que já foi apoiado pela Samp. A ideia é mostrar a alunos do ensino médio que eles têm o direito de acreditar nos seus sonhos. “Através de alguma inspiração, seja médico, seja advogado, seja jogador de futebol. Alguém do bem, que possa mostrar que vale a pena ser feliz, se livrar das dificuldades através do humor.”
15 motivos para manter o bom humor:
- Libera substâncias químicas associadas ao bem-estar: endorfina e serotonina.
- Alivia a tensão física e o estresse.
- Faz bem para o coração.
- Diminui a pressão arterial.
- Aumenta o fluxo sanguíneo.
- Melhora as funções do sistema vascular.
- Fortalece o sistema imunológico.
- Aumenta a energia.
- Relaxa os músculos.
- Ameniza a dor.
- Reduzir a ansiedade e o medo.
- Gera relações de confiança.
- Ajuda a resolver conflitos.
- Atrai pessoas para perto de você.
- Inspira comportamentos positivos.
A matéria acima é uma republicação da Revista Samp nº 40. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita.