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sexta-feira, 29 março, 2024

Batalhões da tropa de choque ocupados por grafiteiros

A Polícia Militar de São Paulo aceitou uma ideia inusitada para quebrar paradigmas: promover um festival de street art  dentro dos batalhões. 

Um evento que será realizado nos dias 12 e 13 de novembro, em São Paulo, deve se tornar referência mundial em termos de aproximação entre a Polícia Militar e sociedade. Pela primeira vez na história da PM, os Batalhões das Tropas de Choque irão abrir as portas ao público para um festival de street art. A ideia é esclarecer às autoridades policiais sobre a legitimidade do trabalho dos artistas na rua e mostrar a sociedade, como um todo, o poder transformador e de diálogo da arte, mesmo em um mundo que vem sendo marcado pelo ódio e pela repressão acentuada.

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Batalhões da tropa de choque ocupados por grafiteirosObra de Ruii do Amaral 

O evento rompe barreiras físicas e sociais e leva o “graffiti” para os muros de um dos primeiros complexos policiais do Estado e um dos de maior relevância histórica para o Brasil. “Nós não só estamos pintando os muros da polícia, nós estamos pintando os muros da polícia onde por dezenas de anos só havia os brasões da instituição e, estamos fazendo com que todos, sem censura por parte do cidadão comum, apreciem o trabalho como de fato ele é, uma arte.”, afirma Pagu, produtor do Festival junto com Andrea Franco.

A proposta da intervenção foi feita pelos artistas à polícia: “O Choque, obviamente, é uma das polícias especiais preparadas para situações extremas. Diante desse cenário inóspito e contraditório, a gente propôs fazer a intervenção”, conta Pagu. O festival, aberto ao público, terá a participação de 15 artistas e as obras serão feitas em, pelo menos, três batalhões. “A gente achou que seria interessante, porque a street arte está na rua. Portanto, é onde tudo acontece. E o Choque está sempre na rua por causa das manifestações”.  

Batalhões da tropa de choque ocupados por grafiteirosPetrus Fidalga 

O Major Ambar ressaltou que, a a partir da proposta inicial, o projeto foi elaborado em conjunto entre os artistas e a PM e que as intervenções serão feitas em algumas unidades do Choque na região central. Segundo ele, o objetivo da corporação é entender e apreciar todas as formas de arte. Além disso, a expectativa do evento é aproximar as duas profissões.

Os artistas consideraram interessante propor o que chama de “diálogo” junto ao Choque e, segundo o produtor, a receptividade “foi surpreendente”, apesar de haver  “um choque cultural”. “A gente entende que está abrindo um diálogo com a polícia. Ao mesmo tempo, a gente está mudando um ambiente que é de mais tensão”, destacou. 

Pagu, que já foi detido sete vezes por conta de sua arte nas ruas, diz que a polícia e os artistas de rua sempre foram colocados em “lados opostos” e que a ação está fazendo com que ele tenha contato com os policiais de uma forma diferente. “Estou vendo nos olhos deles o fato de estarem gostando do que está acontecendo”.

Batalhões da tropa de choque ocupados por grafiteirosCrânio 

Nenhum artista estã recebendo para participar do festival. “Todos os envolvidos estão trabalhando de forma voluntária. Receber por esse trabalho comprometeria a credibilidade de tudo que está sendo proposto.”,  ressaltou o artista Tito Ferrara. Já o grafiteiro Crânio, que tem ido cada vez a mais países por causa de sua arte, destacou que “é um festival inusitado e complexo, mesmo considerando os principais eventos promovidos em outras capitais da street art no mundo.”

Batalhões da tropa de choque ocupados por grafiteirosWark Rocinha

Rui Amaral, que já foi detido dezenas de vezes por fazer parte da primeira geração do graffiti no Brasil, pontuou: “Quando me perguntam por que estou fazendo isso, eu entendo a estranheza das pessoas, mas não é só uma estranheza pelo ineditismo do que está acontecendo, as pessoas querem saber como o graffiti pode dialogar com o Estado. Mas, esse é o objetivo de toda arte de protesto, existir ao ponto de ser percebida. Falar ao ponto de ser ouvida.”, apontou Amaral. 

Para p professor da USP Dorinho Bastos, cartunista de O Pasquim durante o a ditadura militar, “é preciso acabar com a cultura da violência e de desinformação” e o diálogo é essencial para esses propósitos. Também confirmaram presença no evento os artistas Petrus Fidalga e Wark Rocinha.

Batalhões da tropa de choque ocupados por grafiteiros

E não pense que esses vanguardistas vão parar por aí. Perguntados sobre onde pintar após o festival nos batalhões do Choque, os produtores da RUΔ, Pagu e Andrea Franco, anunciaram que já está sendo articulada uma edição do evento em um dos quatro presídios de segurança máxima do Brasil.

 

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