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quinta-feira, 25 abril, 2024

Agronegócio: uma economia bilionária do ES

Agronegócio: uma economia bilionária do ESResponsável por 30% do PIB capixaba, o agronegócio rende anualmente R$ 21 bilhões para o Estado e gera ocupação para cerca de 317 mil pessoas nas propriedades rurais. O desenvolvimento do setor está em toda a parte, de ponta a ponta do Espírito Santo. Dos polos do agronegócio capixaba saem importantes commodities que abastecem o Estado, o Brasil e o mundo.

As cadeias produtivas do agronegócio no Espírito Santo representam 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, percentual acima da média nacional, que está em torno de 25%. A atividade rende cerca de R$ 21 bilhões anuais à economia. Conforme estimativas do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e da Secretaria de Estado da Agricultura (Seag), cerca de 317 mil pessoas trabalham diretamente nas propriedades rurais espalhadas pelo interior, o que representa 20% da população empregada em terras capixabas.

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Segundo estudos do IJSN, o litoral norte é o que mais se destaca no agronegócio, por conta da instalação de indústrias de sucos, chocolate, coco e polpa de frutas. Diante dessa nova realidade, o Estado tem visto a fruticultura crescer entre os agricultores. Vários polos de plantio de frutas surgiram ao longo dos últimos anos, e para fortalecê-los o governo tem adotado alguns programas, como o de distribuição de mudas com valores subsidiados.

O secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli da Costa, lembra que o Espírito Santo se destaca no país em diversas produções: “Somos o maior exportador de mamão papaya do Brasil, o segundo maior produtor nacional de café conilon, o segundo maior produtor de ovos do país, o terceiro maior produtor de cacau e o quarto maior cultivo de seringueiras”.

Ele explica que o Espírito Santo tem três grandes arranjos: o café, responsável por 40% da renda nas propriedades rurais; a pecuária, de leite e corte, responsável por 20% da renda que fica nas propriedades, e a fruticultura, que responde por 18% dessa renda.

Das propriedades rurais do Estado, 80% são de base familiar e são responsáveis pela produção de 52% do café, 43% do leite, 70% do turismo rural e 78% do artesanato local. Além disso, o agronegócio engloba quatro grandes elos da cadeia produtiva. Primeiro, os insumos (sementes, adubo, calcário etc); depois, a produção rural, que ocorre dentro das propriedades; a agroindustrialização, que são os produtos derivados dessa produção (como alimentos processados, envasados, transformados etc), e, por fim, a distribuição (transporte).

Micropropriedades
Segundo o presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Evair Vieira de Melo, do total de propriedades que praticam a agricultura familiar, 50% são micropropriedades, que têm de cinco a oito fontes de renda. Isso inclui a produção de alimentos como biscoitos, pães, doces, licores, artesanato, agroturismo, dentre outros.

Apesar de pequenas, Evair Melo ressalta que essas propriedades não são sinônimo de atraso tecnológico. “O Incaper encontrou um produtor que quer mudança. A adaptabilidade à tecnologia e a informação faz o diferencial”, explica, referindo-se à necessidade de agregar valor aos produtos com o uso de técnicas que garantam a qualidade, o respeito ao meio ambiente e a inclusão social.

Para ele, hoje, a ideia é descomoditizar o produto. Ele cita o café como exemplo: “As pesquisas sobre o café não devem agregar mais produtividade, que já está no limite, mas vão agregar conceito”. Em sua opinião, os produtores devem buscar certificação e trabalhar para que sua região geográfica seja reconhecida por excelência em produção. Ele acredita que os consumidores estarão dispostos a pagar um pouco mais para adquirir produtos orgânicos, ambientalmente corretos. “É nesse cenário que as pequenas propriedades conseguirão sobreviver, sendo mais bem remuneradas.”

Evair Melo afirma que os agricultores familiares têm responsabilidade social. “É o pequeno agricultor que preserva a área remanescente de Mata Atlântica.” A recomposição florestal, com produção de água, é outro exemplo da participação do agricultor para a preservação do meio ambiente. A conservação das nascentes nas bacias dos rios Beneventes, Santa Maria da Vitória, São José e Guandu faz parte de um programa do governo que remunera proprietários rurais por serviços ambientais, utilizando recursos dos royalties do petróleo e gás.

Mas Evair admite que essa postura econômica, ambiental e social é um pacto novo para a sociedade e amarra uma cadeia de compromissos, que vão desde pesquisas a linhas de crédito para o pequeno agricultor, que não tem capital de giro. “Este é o papel do Espírito Santo, investir para ter melhor qualidade dos produtos e menos impacto ao meio ambiente. Queremos partir para a agricultura conceitual, com remuneração melhor para o produtor.”

Café
O cultivo do café é, sem dúvida, uma das atividades mais importantes do Estado. O agronegócio dessa cadeia tem grande peso social e econômico: 80% dos municípios do Estado têm na cafeicultura seu sustentáculo econômico. A cadeia produtiva gera em torno de 400 mil empregos por ano. Só na produção, hoje trabalham 131 mil famílias.

A produção anual de café é de 10,2 milhões de sacas, das duas variedades, conilon e arábica, em 60 mil propriedades. Desse total, mais de 70% são propriedades de agricultura familiar. Em 2009, o Espírito Santo respondeu por quase 26% da produção no país.

Segundo o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli, a área plantada do Estado é de 470 mil hectares, sendo 180 mil hectares de café arábica e 290 mil hectares da variedade conilon. “Temos cerca de 40 mil produtores de conilon e 20 mil de arábica. O valor que fica com os produtores é de R$ 2 bilhões por ano. Temos algo em torno de 1 bilhão de pés de café no Estado.”

Bergoli explica que tanto o café arábica, quanto o conilon têm evoluído na qualidade. E o governo tem procurado incentivar a melhoria na qualidade e na produtividade para, consequentemente, os preços melhorarem. Em sua opinião, no futuro, isso pode significar a permanência do produtor no mercado. “O mundo exige cada vez mais qualidade e o produtor capixaba não pode ficar para trás.”

Pecuária
O rebanho bovino do Estado tem hoje 2,2 milhões de cabeças. Desse total, cerca de 390 mil são da pecuária de leite. Anualmente, são produzidos 450 milhões de litros de leite por ano. São 1,3 milhão de litros de leite por dia em cerca de 17 mil propriedades. A produtividade anual do leite é de 1,7 mil litros por hectare, “mas já temos criadores de gado com produtividade acima de 20 mil litros por hectare”, afirmou o secretário Enio Bergoli.

Para garantir esse desempenho, o governo tem repassado aos pequenos produtores botijões de sêmen, com o objetivo de melhorar a qualidade genética do gado leiteiro. “Temos mais de 150 núcleos de inseminação artificial comunitários, dois centros de treinamento de inseminadores nas fazendas do Incaper de Linhares e Cachoeiro de Itapemirim e estamos distribuindo resfriadores comunitários de leite para facilitar a coleta dos pequenos produtores”, acrescentou Bergoli.

De 2003 a 2009, foram distribuídos 141 resfriadores com capacidade entre mil e três mil litros, alocados em cooperativas e associações de produtores. No ano passado, foram adquiridos mais 258 tanques. A atividade leiteira é responsável por 30 mil empregos diretos no campo e 25 mil indiretos.

Já a pecuária de corte conta com 11 mil pecuaristas, a maioria localizada nos municípios de Ecoporanga, Montanha, Linhares, São Mateus, Colatina e Pinheiros. Eles são responsáveis pela exportação de carne bovina, totalizando uma transação de US$ 20 milhões. A atividade de criação de gado de corte rende para os produtores, anualmente, um total de R$ 350 milhões.

Ovos e frango
Outro grande destaque da produção local é a de ovos, liderada pelo município de Santa Maria de Jetibá, que concentra 90% da produção do Espírito Santo e é o segundo município produtor do país. São cerca de oito milhões de aves de postura alojadas, distribuídas entre 184 criadores. A produção é de aproximadamente sete milhões de ovos por dia, ou 270 milhões por ano.

Já a produção de frango para corte é realizada por 48 produtores, com um plantel que varia de nove a dez milhões de aves. A estimativa da Secretaria de Agricultura é a de que 200 mil frangos sejam vendidos por dia, num negócio que gera entre R$ 190 a R$ 210 milhões anuais.

Polos de frutas
Segundo dados do Incaper, o Estado tem hoje 85 mil hectares ocupados com plantio de frutas. A produção anual gira em torno de 1,3 milhão de toneladas, o que gera uma renda de R$ 600 milhões. Para garantir o desenvolvimento desses polos, o Incaper mapeou o clima e o solo do Estado para indicar variedades mais produtivas e resistentes às doenças, com boa produtividade para as diversas regiões.

Atualmente, o Estado conta com 12 polos de frutas: abacaxi, acerola, banana, coco, goiaba, mamão, manga, maracujá, morango, tangerina e uva. O 12º polo é diversificado, com a meta de distribuição de 600 mil mudas de 20 tipos de frutas para 17 municípios da região Noroeste, em cinco anos. A maior parte de toda essa produção se destina a indústrias de processamento de polpa de fruta.

No caso do maracujá, desde 2004 o cultivo se concentrava no norte do Espírito Santo, em Sooretama e Jaguaré. Devido às condições de solo e clima, o plantio foi estendido também para o sul do Estado, nas cidades de Itapemirim, Guarapari, Alegre, Marataízes e Cachoeiro de Itapemirim. Mas o norte ainda se destaca na produção, que conta com 2,8 mil hectares plantados e uma produção de 76 mil toneladas da fruta.

Outro destaque é a produção de morango, na região serrana, em especial nos municípios de Santa Maria de Jetibá, Domingos Martins, Venda Nova e Castelo. A produção anual gira em torno de 5,9 mil toneladas, em uma área de 185 hectares. São 2.960 empregos diretos, em 1,5 mil propriedades de base familiar.

O mamão capixaba é hoje o mais exportado do país. Com uma produção anual de 550 mil toneladas, o Espírito Santo é o segundo produtor nacional da fruta, sendo o primeiro no cultivo do tipo formosa. A produtividade também alcança os maiores índices do país, cerca de 80 toneladas por hectare. Está presente em 11 municípios do norte e gera cerca de 20 mil empregos. Linhares se destaca, sendo responsável por 70% das vendas brasileiras do fruto ao exterior.

Vale ressaltar ainda o franco crescimento da produção de uva. Em 2004, quando foi implantado o polo, o cultivo era praticado em 17 propriedades de Santa Teresa, num total de 13 hectares. No ano passado, o município atingiu 60 propriedades de base familiar cultivando a fruta, em 45 hectares.

No sul do Estado, em Itapemirim, Marataízes e Presidente Kennedy, o cultivo do abacaxi sempre teve destaque. Mas, recentemente, em 2009, foi lançado o polo de abacaxi também no norte do Estado. Pinheiros, Montanha, Pedro Canário, Mucurici, Conceição da Barra, Boa Esperança, São Mateus, Jaguaré, Sooretama e Linhares já plantam a fruta, em função do crescimento da demanda. Hoje são cultivadas 35 mil toneladas no Estado.

O secretário Enio Bergoli disse ainda que está começando o polo de pêssego, na região de montanhas, especialmente em Venda Nova e Domingos Martins.

Bandes
A agricultura familiar é tão importante para a economia do Espírito Santo que está incluída como prioridade do Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura Capixaba (Pedeag) 2007-2025. Em 2011, o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) deve liberar cerca de R$ 180 milhões para aproximadamente seis mil famílias, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). No ano passado, foram financiados R$ 136 milhões. “Somente no primeiro trimestre atendemos à cerca de 900 famílias”, disse o diretor de Crédito e Fomento do Bandes, Everaldo Colodetti.

O valor representa a aposta da instituição no crédito rural. “Nos últimos quatro anos, a instituição movimentou mais recursos na agricultura familiar do que de 1997 a 2005. Tudo isso também graças à aposta do banco nas parcerias, iniciativa que estruturou o atendimento do Bandes em todos os municípios capixabas e ajudou a consolidar os resultados no setor”, explica Everaldo.

No Bandes, desde 2003, muitas iniciativas têm sido adotadas para ajudar o produtor rural que tem na agricultura familiar o seu sustento. Dentre elas estão o fortalecimento das parcerias com órgãos como o Incaper e as secretarias municipais de agricultura, o investimento em tecnologia da informação e a aposta em uma estruturada rede de parceiros-consultores.

“O Bandes faz chegar às comunidades rurais os benefícios do crédito, levando desenvolvimento para todo o Espírito Santo e possibilitando que as famílias possam crescer e se desenvolver sem ter que deixar as suas raízes”, explica Colodetti.

É exatamente a adoção de uma política agrícola que fortaleça os produtores, fixando-o no campo, com oportunidades de diversificação de negócios a partir de plantios e de atividades pecuárias que garantirá o maior desenvolvimento do agronegócio no Estado. As palavras do secretário Ênio Bergoli resumem a expectativa e a perspectiva para o setor: “O Estado está vivendo um terceiro ciclo de desenvolvimento. Primeiro, foi o café, depois a base industrial e agora as cadeias produtivas do petróleo, gás e siderurgia. Mas, para a maior parte do Estado, a geração de emprego e renda ainda reside na agricultura e seus negócios. Precisamos consolidar e desenvolver as cadeias produtivas do agronegócio, que serão estratégicas para que a gente consiga um desenvolvimento harmônico e coerente para toda a população, rural e urbana”.

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