Lições da história já mostraram que avanços tecnológicos por si não garantem ampliação do comércio e da integração da economia mundial
O futuro Embaixador do Brasil demonstra ser um convicto defensor do nacionalismo autárquico e da soberania nacional. Ou seja, vê o setor externo como ameaça para a economia domestica, e entende a diplomacia como meio para fortalecer a identidade nacional.
Usualmente, tal posição se deve a dois equívocos: (i) considerar o Estado onipotente e onisciente; (ii) entender a concorrência externa como inimiga do mercado doméstico.
Por isso alimenta o mito da economia fechada, superestima o poder do Estado, e confunde concorrência com ameaça.
Posicionamento que já levou o Brasil para estatização e fechamento de sua economia, que quase o alijou do mercado mundial no final do século XX, durante a égide das “BRAS” – Siderbras, Eletrobras, Telebras, Nuclebras, Petrobras.
Erro crasso. Esqueceu-se do papel da eficiência para enfrentar a concorrência e, principalmente, do mercado externo, para completar a oferta doméstica.
De forma análoga, não percebeu que concorrência não é ameaça, é estímulo para a melhora. Mercados abertos são oportunidades para avanços. Os fechados, para ineficiência e clientelismo.
Deixou-nos como herança a economia que temos hoje, incompetitiva, e com baixa inserção externa.
As posições do futuro Embaixador preocupam porque estão na contramão da realidade trazida pela tecnologia digital da quarta revolução industrial – mudanças sem precedentes no processo produtivo e na sua subsequente comercialização, doméstica e entre países.
Facilita o acesso aos mercados, diversifica linhas de produtos, e reduz custos. Com isso, abre espaço também para crescimento do comércio de serviços.
Segundo a OMC, ela poderá beneficiar, especificamente, as micro, pequenas e médias empresas dos países em desenvolvimento, porque os acessos à impressão em 3D, a inteligência artificial, e o blockchain, abrem oportunidades para que participem da cadeia global de valor. Basta que haja um aparato regulatório que as permitam aproveitar essas oportunidades.
Contudo, para que o potencial econômico desse paradigma seja aproveitado em sua plenitude, serão necessários também cooperação e o multilateralismo porque, se por um lado instala-se uma era de compartilhamento, por outro acirra a concentração de mercado, reduz segurança e, principalmente, exclusão daqueles que não conseguirem seguir o ritmo e a direção das mudanças impostas pela era digital.
Além disso, lições da história já mostraram que avanços tecnológicos por si não garantem ampliação do comércio e da integração da economia mundial.
Também, ainda não é possível garantir que a tecnologia digital trará aumento de produtividade.
Assim sendo, o mundo está diante um novo real não devidamente dimensionado.
Só se sabe que está em todos os mercados. É global. E o sendo, não dá para trata-lo com visão nacional.
Cooperação e multilateralismo são os receituários recomendáveis para que se possa tornar a tecnologia um aliado para um sistema de comércio amplo, justo e inclusivo.
Radicalismos e verdades nacionalistas não cabem nesse painel.
Nosso futuro Embaixador já se deu conta disso?
Arilda Teixeira é economista e professora da Fucape